Interplexa

Do Latim Estérico: Inter (prep. "entre") + plexa (particípio do verbo "plicare", "dobrar", "desdobrar", "laçar") Significado: 1. neutro plural:"Coisas entrelaçadas ou que se desdobram internacionalmente" 2. feminino singular: "Mulher (ou menina) de camadas interligadas ou que se desdobra internacionalmente) Vide também: www.internexa.blogspot.com

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Local: Brasília, Toronto

Brasiliense de origem montalvanense desbravando o gelado inverno do doutorado canadense.

30.6.07

Atenção seletiva, ou coincidência?


É engraçado como às vezes a gente passa anos sem nunca ter pensado em determinada coisa ou pessoa, e de repente, tchum, tal coisa ou pessoa aparece em todo lugar que você olha.

Hoje eu descobri que Leonard Cohen (sobre quem eu escrevi há alguns dias (vide post "Disco Furado"), mas em quem eu nunca tinha pensado antes) morou um tempo na ilha de Hydra (que eu visitei há alguns dias (vide foto), mas cuja existência eu desconhecia até então). Eu sabia que Cohen tinha nascido em Montreal, mas não sabia que ele tinha estudado na universidade McGill (onde eu também estudei).

Hoje eu assisti um documentário sobre o Leonard Cohen, que, francamente, não foi assim o melhor documentário que eu já vi. Mas a cena em que o Bono comenta sobre a música "Hallellujah" foi de arrepiar, pelo simples fato do comentário dele ser muito semelhante a um comentário que fiz sobre a mesma música muito recentemente. (A cena em que o próprio Leonard Cohen canta "Tower of Song" com o U2 como banda de apoio também não foi nada mal.)

Eu também gostei muito da parte em que o Bono fala que o Cohen trabalha na escrita dele do jeito que um carpinteiro trabalha na mobília. Ele encara como um trabalho, tem que suar, nada de ficar esperando bater a inspiração. Talvez a inspiração bata, mas a gente tem que fazer a nossa parte.... Foi Einstein que disse que gênio é 1% inspiração e 99% transpiração?

Outra coisa que eu não sabia foi que o Cohen tinha sido ordenado monge budista. Talvez em qualquer outra fase da minha vida esse fato tivesse passado desapercebido. Mas quando eu estava na Grécia no começo do mês, eu encontrei um amigo quem eu não via há anos, e que em março desse ano foi ordenado monge budista também... As coincidências vão acumulando, que nem novela...

Talvez seja eu, pronta para achar coincidências só porque eu tenho pensado bastante nessas coisas, meio que nem a teoria de Freud sobre atenção seletiva (aquele história que é só você comprar um carro novo e de repente aparece um tanto de carro igual ao seu na rua). Não sei.

Mas é meio desconcertante quando a gente passa um tempão sem ver algo que está bem na frente do nosso nariz, e daí de repente a gente enxerga a coisa, e passa a se perguntar como é que a gente passou tanto tempo sem ver isso antes. Será que é preguiça, talvez cegueira? Ou será que a gente às vezes precisa mesmo de 99% inspiração para cada 1% de transpiração?

27.6.07

Pode acontecer em qualquer lugar

Atenção: este post contém referências a orgãos sexuais e violência (é necessário às vezes dar nome aos bois). Baseado em fatos reais.

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Após um post sobre a importância de ser infantil, eis aqui um post sobre um tema mais pesado.

Ultimamente, eu tenho pensado bastante sobre o tema de violência contra mulheres, algo cuja existência eu conhecia, mas não conhecia. Até agora. Claro que eu sempre soube que é o tipo de coisa que pode acontecer a qualquer mulher, mas por alguma razão (arrogância? presunção?), num nível subconsciente eu meio que me achava imune. Não acho mais.

O texto abaixo é tradução de um email que mandei para uma amiga minha quando eu estava em Atenas no dia 7 de junho passado.

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Ok. Uma coisa agradável e depois uma bem desagradável me aconteceu depois que eu te escrevi aquele email na hora do almoço.

A coisa agradável foi que eu subi o Monte Lykavittos, o ponto mais alto de Atenas, com a vista mais fantástica da cidade, da Acrópole, do mar, das ilhas. Incrivelmente lindo! O caminho até em cima me lembrou um pouco das trilhas no Mont Royal em Montreal, mas não tão bem cuidado, ou largo, ou movimentado.

Eu fui pelo caminho mais longo, mais deserto. Lá cima, tinha uma capelinha, um mirante, nem meia dúzia de turistas, um velho dormindo nos degraus de uma torre com um sino, e dois policiais. Eu dei a volta na capela, e descobri um caminho que desce para um restaurante e chega até a saída de um teleférico. Tirei umas fotos, e voltei para o topo, onde os policiais agora estavam conversando com o velho recém-acordado.

Para voltar monte abaixo, eu decidi pegar o caminho principal, que tinha mais estrutura, era mais curto, mais largo, mais movimentado. E foi aí que o algo desagradável aconteceu.

Um passante veio por trás de mim e começou a caminhar ao meu lado e a puxar assunto. Entre grego, inglês e italiano, ele se apresentou como Eric. Depois de três minutos me oferecendo cigarro, e me convidando para sentar um pouco, sem conseguir me fazer parar (eu continuei andando rápido, dizendo que tinha alguém esperando por mim e eu estava atrasada), ele simplesmente abriu a braguilha, tirou o pênis pra fora e murmurou alguma coisa tipo "fazer bambini", de pé, no meio do caminho, céu aberto, sol brilhando, plenas quatro da tarde, saída principal de uma das principais atrações turísticas de Atenas.

Eu chispei, com velocidade quadruplicada (movendo com meu centro de gravidade, meu umbigo, e todo meu ser). Ele começou a correr atrás de mim, dizendo "sorry sorry", até me alcançar e me agarrar pelo traseiro. Neste momento eu virei de uma vez (foi a primeira vez que eu parei e/ou virei), levantei o punho fechado, pus minha cara mais brava e disse algo do tipo "não se atreva!" com voz bem firme.

Para minha grande surpresa, o cara congelou. E eu de repente me toquei que eu não sabia nenhum golpe, além de levantar o punho, e como gritar por socorro provavelmente não ia ajudar muito, eu aproveitei que ele estava paralisado, girei nos meus calcanhares e corri. Em 15 segundos eu passei por outro transeunte (mas nessa altura do campeonato homens desacompanhados na faixa dos trinta anos não me transmitiam a mínima confiança). Em mais 10 segundos eu estava fora do parque, de volta à civilização. O incidente todo não levou nem 5 minutos do começo ao fim.

E agora, menos de meia hora depois, estou eu aqui te escrevendo. Minhas pernas estão quase parando de tremer, e meu coração está quase de volta ao ritmo normal. Mas eu estou pensando: eu tenho que cuidar dessa minha atitude "aventureira": isso não foi nem um pouco divertido... E policiais, só lá em cima do morro; quando você precisa mesmo, nada...

Se cuida,

Ester
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25.6.07

Brincar é coisa séria

Quando eu era criança, eu gostava muito de ler. Muito mesmo. Na verdade, eu lia tanto, que nem sei se eu era muito criança de fato. Eu preferia a companhia de livros do que a de outras pessoas. Eu preferia ler a brincar com gente da minha idade. Na verdade, eu gostava tanto de ler, que teve vez que a professora até chegou a chamar meus pais na escola, preocupada com minha seriedade precoce.

Por um lado, eu acho que essa seriedade toda me faz amadurecer mais rápido. Mas por outro lado, eu acho que isso também prejudicou meu desenvolvimento em outras áreas. É como se eu fosse gente grande desde pequena, e nem sempre duma maneira positiva. É possível ser imaturamente maduro, e na verdade, não é nem tão difícil.

Mês passado eu escrevi sobre "neotenia", e é algo em que tenho pensado bastante. Chame de síndrome de Peter Pan, chame do que for, mas minha opinião atual é que ser infantil é coisa muito séria. E estou me divertindo pacas tentando despertar minha criança interior (uma criança meio sisuda, mas ainda assim criança).

Quando eu era pequena, por algum motivo me veio à cabeça a convicção de que ou se é bom com livros, ou com esportes, mas não com os dois. E já que desde quando eu me entendia por gente eu já gostava de ler, eu meio que achei que minha escolha já estava feita e selada, e que seria fominha demais gostar de esportes também. Então eu entrei nesse círculo vicioso de que eu era "um desastre" em qualquer coisa que envolvesse o físico.

Acho que só foi lá pros meus 25 anos que eu saquei que essa dicotomia mente-corpo era um mito -- e um mito não só bobo como também prejudicial. Desde então eu tenho tentado reverter os efeitos de um quarto de século de vida sedentária, nem sempre com muito sucesso (embora deva confessar que é bem melhor tentar quebrar a vida sedentária agora do que esperar mais outros 25 anos).

Tudo começou com a bicicleta. Depois a dança. Depois, mexer através do umbigo. Ontem eu experimentei dar tacadas em bolas de golf pela primeira vez. E frisbee. E pulei num trampolim. E, para minha grande surpresa, não foi nenhum desastre. Muito pelo contrário.

Eis então que um círculo vicioso dá lugar a outro ciclo, não tão vicioso mas igualmente viciante. Só espero que meus livros não fiquem com muito ciúmes. E se ficarem, ah, problemas...

20.6.07

Admirando o próprio umbigo

Os gregos achavam que a Grécia era o umbigo do mundo. Se isso não é egocentrismo (literalmente), eu não sei o que é.

Dessa última vez que eu fui à Grécia eu não tive tempo de ir a Delfos, o local exato do suposto umbigo do mundo. Mas eu passei muito tempo admirando um certo umbigo. No caso, o meu próprio umbigo.

Na verdade, nos últimos dois meses eu tenho admirado meu umbigo mais do que o normal. Não que narcisismo seja algo assim tão fora do normal para mim. Mas nesses meses eu alterei minha consciência umbilical em quantidade e qualidade. Eu tenho pensado sobre meu centro de gravidade, meu eu criativo, minha fábrica de energia. Seja lá o que isso queira dizer.

7 semanas atrás eu tomei uma decisão arrojada. Eu me matriculei em três aulas sobre as quais eu não sabia nada de nada. Eu comecei a ter aula de Pilates, Tai Chi Chuan e Nia. Eu não tinha a mínima idéia do que que era essas aulas, mas eu precisava de uma motivação extra para ir para a academia, e essas eram as únicas aulas que se encaixavam no meu horário. E por coincidência, todas essas três atividades exercitam o nosso centro de gravidade. Nosso "eu" criativo. Nossa fábrica de energia. Aquela cicatrizona no meio da nossa barriga.

Acredite ou não, essas aulas estão tendo o maior impacto em outras partes do meu dia-a-dia. Tango, por exemplo. Tem mais de ano que eu estou tentando entender o que que a tia quer que eu faça quando ela fala "Gente, tem que dançar com o umbigo!". Como assim, com o umbigo? "Andar com o umbigo! Conduzir com o umbigo! Deslizar com o umbigo!" Pô, como assim? Mas agora, de repente, isso faz todo o sentido e toda a diferença! Até rodopiar ficou muito mais fácil, e muito mais legal.

Essa história de andar com o umbigo muda até o jeito que eu caminho. Andando com o umbigo eu caminho muito mais rápido, sem fazer tanto esforço. Eu geralmente me mexo a partir das minhas extremidades, e é por isso que eu ando devagar (e eu ando devagar pra caramba: é muita responsabilidade para meus pezinhos). O mesmo se dá com a quantidade de peso que eu consigo levantar (levantar peso com as mãos ou com o tronco faz toda diferença do mundo). Então agora do nada eu estou me sentindo "a forte".

Então, se você estiver procurando uma maneira mais criativa, energizante, equilibrante de admirar o próprio umbigo, experimenta esse negócio de mover a partir do seu "centro de gravidade". Sério, é o tipo de coisa que mexe o meu "eu" interior mais criativo... Seja lá o que isso queira dizer.

16.6.07

Disco furado

Quem me conhece talvez saiba da minha tendência de ouvir um disco repetidamente até furar. Às vezes é o mesmo disco por alguns dias, às vezes a semana inteira (e às vezes mais: se você duvida, ou se não me conhece, queira por gentileza conferir o post "Comida para a Alma", de abril 2007).

Nas paradas dessa semana o número único foi "The Essential Leonard Cohen". Eu comprei esse disco tem meses, junto com uns outros seis (uma dessas promoções de R$ 0,99 por disco se você comprar tantos discos, e daí você compra, e acaba sendo bem mais que um real por disco que eles usaram de isca, mas nesta altura do campeonato você já se apegou aos discos, então você termina de comprar assim mesmo).

Eu até tenho uma resolução de nunca comprar mais de dois CD´s de uma vez, justamente porque eu preciso de tempo para saborear cada disco novo, escutar até furar ou até meu cérebro se satisfazer que, sim, temos esse disco em nossos arquivos. É como se eu tivesse que gravar o disco no meu cérebro, memorizar os títulos, as ordem das faixas, as letras, para poder ter certeza que realmente eu tenho esse disco, literalmente encorporado à minha coleção, gravado no meu cérebro direito e esquerdo, ouvido direito e esquerdo, lábio superior e inferior, mãos e pernas.

Por algum motivo, apesar de toda essa minha política administrativa burocrática quanto à aquisição de Cd´s, por algum motivo eu nunca cheguei a escutar o Leonard Cohen quando eu comprei. E no meio de tantos discos me pedindo atenção, discos novos a serem gravados no cérebro, disco velho reclamando de falta de carinho, mudanças constantes de uma parte a outra da cidade, eu simplesmente nunca parei para escutar o Leo.

Até essa semana. Um outro fato que as pessoas que me conhecem podem ou não saber sobre a minha pessoa é que de quando em vez eu tenho que escutar todos os meus discos, na ordem que eles estão na prateleira. Então se dessa vez eu vou em ordem alfabética, da próxima vez eu começo com trilhas sonoras do Woody Allen e O Melhor de U2, e vou cantando até chegar no Abba. Se dessa vez é a prateleira de música brasileira, da próxima vez é música internacional. E se dessa vez for a prateleira dos Beatles (eles têm uma prateleira só para eles), da próxima vez é a do Legião (que também tem uma só para eles. Minhas prateleiras são pequeninhas). E foi assim que eu descobri o Leonard Cohen lá quietinho do lado do Phil Collins.

Então eu pus para tocar uma vez. E gostei. Pus de novo. E repeat. E coloquei para tocar até eu dormir. E depois quando eu acordei. E enquanto me vestia para o trabalho. E ao voltar do trabalho. Achei os acordes das minhas músicas favoritas na internet. Toquei "Hallellujah" no violão tantas vezes que já até dou conta de tocar sem olhar (eu sei, lugar comum dizer que a música do Leonard Cohen favorita é Hallellujah. Mas o motivo pelo qual todo mundo gosta de Hallellujah é bem simples: é uma música linda: melodicamente, ritmicamente, letralmente, guturalmente, biblicamente, absolutamente).

E os dias se passaram, e a semana se passou. Meus dedos, sem prática, de repente se sentiram como se fosse o segundo grau de novo. E minha garganta também, e meu violão, e meu coração. Eu só não me atrevi perguntar meus vizinhos o que eles acharam dessa história.

15.6.07

A Vida dos Outros

Então, eu disse que ler placas e cartazes foi uma das coisas mais divertidas que eu fiz na Grécia (meu senso nerd de diversão). O cartaz ao lado é um exemplo perfeito. Nele está escrito:

"'Oi Zôes tôn allôn"

'Oi = artigo plural

Zôes = "vidas" (tipo "zoológico")

tôn allôn = genitivo plural = "dos outros" (tipo "alopatia")
= "As Vidas dos Outros"

Captei a mensagem! E captar essa mensagem me dá aquela emoção que uma criança sente quando está aprendendo a ler.


Este cartaz é de um filme alemão que assisti recentemente, e tem semanas que eu estou ensaiando de escrever sobre ele e não escrevo. Ele é um dos filmes mais bonitos que já vi. O desenvolvimento dos personagens é absolutamente fantástico, e, no final, eu fiquei com aquela catarse que senti com "Les Miserables" de Victor Hugo, ou "A Tale of Two Cities" do Charles Dickens.

Mais especificamente, esse filme me fez pensar sobre a diferença entre justiça e misericórdia; sobre ser o dono da verdade; sobre observar - e julgar - os outros como se a gente se fosse invisível, ou acima e além de qualquer crítica.

Eu não tenho experiência com atuação, mas eu fico pensando se bons críticos são bons atores. Me parece que na vida cotidiana, os críticos mais críticos estão tão ocupados procurando defeito na atuação dos outros que não sobra tempo para atuar também (e, com todas as minhas teorias, devo confessar que também sofro desse problema). Então eles (nós?) meio que vivemos as vidas dos outros, que nem o cara do filme.

Mas chega um certo ponto, se a gente tiver sorte, que a gente cansa de escrever relatórios sobre o azedume das uvas lá do outro lado da cerca onde a grama parece ser bem mais verde (algo que não confessaríamos nunca). Quando se resolve pular para o outro lado, a gente percebe que a grama é mais verde porque ela é mais bem cuidada, e as uvas não são nem um pouco azedas quanto imaginávamos (Esopo tem uma fábula sobre a raposa e uvas azedas).

E, de repente, estamos compenetrados demais cuidando da nossa própria grama e nossas próprias uvas para ter tempo de caçar defeito na vida dos outros. Quando muito, ficamos felizes que têm outros para receber e aproveitar todas as flores e uvas que a gente não gostaria que apodrecesse no nosso jardim depois de todo esforço e cuidado que dedicamos a elas.

12.6.07

Grécia à Brasileira

Eu falei que a Grécia é o lugar no mundo que mais me lembra o Brasil, e você, cara leitora, caro leitor, deve estar se perguntando:

"Como assim? Ela diz que 'talvez seja o número de brasileiros, mas não é só isso' como se isso explicasse tudo! Mas se não é só o número de brasileiros, o que mais poderia ser?"

E eu digo: boa pergunta... boa pergunta... Com certeza, meu comentário não explica nada. Na verdade, nem sei se dá para explicar. Mas meu palpite é o seguinte:

1. Como eu disse, é só um "palpite", e palpites não seriam palpites se a gente soubesse explicar ou descrever a situação. Eu não sei o que que tem na Grécia que me lembra o Brasil: se são as pessoas, as ruas, o clima, a vegetação, a cor da terra...

Mas tanto dessa vez quanto da outra vez que eu visitei a Grécia em 2001, essa sensação de "não estar no exterior" repetiu-se constantemente, nos lugares mais diversos: partes do centro de Atenas me lembram o centro do Rio; o interior da Grécia me lembra o árido norte de Minas; algumas praias na Grécia me lembram o Nordeste do Brasil. E eu nunca tive essa sensação em outro país, e apesar da minha lista de países visitados ser restrita, ela não é tão restrita assim.

2. É bem verdade -- e igualmente notável -- que eu encontrei na Grécia mais brasileiros que o normal. Essa é outra impressão que eu tive das duas vezes que eu fui à Grécia. De novo, minha lista de países visitadas é restrita, mas nem tanto, e eu diria que eu tenho até um bom radar detector de compatriotas. Mas acho que o único outro lugar que eu já fui que eu já vi tanto brasileiro fora do Brasil foi na Flórida. Talvez... em Nova Iorque, mas muito talvez.

Se tivesse sido só dessa vez, eu atribuiria essa sensação à novela "Belíssima". Mas eu tive essa sensação também da outra vez que eu vim aqui, anos antes da "Belíssima" pensar em entrar no ar. Talvez o fator grego da novela seja conseqüência, e não causa, do número de brasileiros na Grécia.

E é só isso que eu tenho a dizer sobre esse assunto. A causa real desse fenômeno continua sem explicação. E seja fato mesmo que tem uma proporção acima da média de brasileiros na Grécia, comparado com outros lugares que eu fui, ou seja só impressão minha, é fato indisputável que eu tenho essa impressão. E nem Descartes poderia duvidar dessa minha explicação.

9.6.07

Semana à Grega

Esses últimos sete dias eu passei na Grécia, e agora fazendo o balanço da semana, as seguintes coisas me impressionaram mais:

1. A Grécia me lembra muito o Brasil. Talvez seja pelo grande número de brasileiros que encontrei aqui. Mas não é só isso.

2. Para alguém, tipo eu, que adora estudar idiomas, e que passou anos estudando grego antigo, andar tentando entender placas e propagandas, títulos de filmes e legendas, que nem uma criança aprendendo a ler, foi umas das partes mais divertidas da viagem. Tudo bem, eu admito que meu conceito de "divertido" é peculiar, e talvez um tanto nerd. Mas poucas coisas me fizeram rir tanto quanto acessar meu email, ou navegar na internet, e ver todos os comandos que eu conheço bem tudo escrito em grego, e decifrar o grego e ver que faz todo sentido (por exemplo, a palavra para "senha" é "mystikos kodikos" "código místico". Como não rir?).

3. Mas teve também diversões menos nerd. A vista do topo do monte Lykavittos, o ponto mais alto de Atenas, de onde se vê toda a cidade de Atenas, a Acrópole, o mar, algumas ilhas, tudo na frente dos seus olhos de uma vez só, é algo absolutamente de tirar o fôlego (é claro que subir o morro a pé também ajudou a tirar o fôlego). Ou sentar no monte Aerópago de noite, com a Acrópole bem acima do seu ombro, enquanto fogos de artifício passeavam no céu -- como é que eu descrevo uma coisa dessa? Caminhar na bela ilha de Hydra também não foi nada mal. E eu não vou nem começar a descrever as delícias culinárias..

4. Mas nem todas as experiências foram agradáveis. As duas coisas que me incomodaram mais foram a) a sensação de estar sendo constantemente passada para trás (e sabendo disso, mas sem poder fazer nada) e b) a facilidade de, do nada, estar numa situação de exploração sexual completamente indesejada, seja prostituição, ameaça de violência em plena luz do dia, pornografia nas bancas de revista de dia e nos canais de televisão de noite. Eu nunca me senti tão vulnerável viajando desacompanhada, e olha que tem tempo que eu viajo desacompanhada.

5. Agora que a semana está terminando, a sensação é que tem ainda um tantão de coisa para fazer e história para contar, mas minha cabeça e minhas pernas estão sobrecarregadas. É tanta coisa para absorver. Às vezes eu tenho vontade de vir passar alguns meses na Grécia, para poder visitar todos os lugares fascinantes que eu nunca tenho tempo, dinheiro, meio de transporte ou pique de visitar numa viagem curta como essa.

Mas ao mesmo tempo, a impressão que a Grécia, a antiga e a atual, nem sempre são tão bonitas e perfeitas quanto a gente sonha me faz pensar, e eu não sei se eu prefiro ficar só na fantasia, ou encarar a realidade. No final das contas, tudo que eu sei é que nada sei. Ou muito pouco.