Interplexa

Do Latim Estérico: Inter (prep. "entre") + plexa (particípio do verbo "plicare", "dobrar", "desdobrar", "laçar") Significado: 1. neutro plural:"Coisas entrelaçadas ou que se desdobram internacionalmente" 2. feminino singular: "Mulher (ou menina) de camadas interligadas ou que se desdobra internacionalmente) Vide também: www.internexa.blogspot.com

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Local: Brasília, Toronto

Brasiliense de origem montalvanense desbravando o gelado inverno do doutorado canadense.

13.3.07

De buk is on de teibol

Mais um post sobre o Lobato, prometo que o último, pelo menos por alguns meses.

O Monteiro Lobato lia bastante a literatura inglesa, e até traduziu vários livros do inglês para o português. Mas naquele tempo não havia fitas ou CD´s para aprimorar o "listening", e filmes americanos não eram tão difundidos como hoje. O que quer dizer que apesar de Lobato saber "ler" inglês bem, umas aulinhas de conversation antes da viagem dele para Nova Iorque teriam sido uma ótima pedida, como mostra o trechinho abaixo:

New York, 5, 9, 1927,

Rangel,

O americano troca o "t" por "r", de modo que até um inglês de Londres se atrapalha em New York. Há dias pedi "water" num restaurante. O "waiter" - isso que aí vocês chamam de garçon - olhou-me com cara d´asno. Repeti: "A glass or water, please!" Ele ainda ficou no ar uns instantes. Depois seu rosto iluminou-se (era um garçon inteligentíssimo) e disse: "Warer?" (uórar), e trouxe-me a água. "Tomato" é "tomeiro" - e eu sou "Mr. Lobeiro." Filha é "dórar" e "What of it?" é "Órovet?". Fui comprar uma fita de máquina. "Standard ou pôrabal?" perguntou o homem. Espertissimamente adivinhei que "pôrabal" queria dizer "portable" - máquina portátil.

Se gostas de ler inglês, poderei mandar-te um milhão de coisas - sobretudo jornais e revistas.

So long, old chap!

Lobato

2.3.07

Admirável Mundo Novo

Eu terminei de ler A Barca de Gleyre, volume de correspondência de Monteiro Lobato com Godofredo Rangel. E a impressão final foi uma que já tive com outro artistas cujo trabalho admiro: a impressão de que eu nunca me daria bem com a pessoa se a conhecesse, apesar de admirar tanto seu trabalho. Impressão que foi confirmada com a lida de O Presidente Negro ou O Choque das Raças, romance futuristico à la "Admirável Mundo Novo" que Lobato escreveu em 1927.

Engraçado isso de querer que as pessoas cujo trabalho você admira sejam do jeito que você acha que as pessoas que desenvolvem tal trabalho devem ser. E difícil dizer se o melhor é deixar a fantasia intacta, ou desmascará-la de vez. A idealista em mim ainda acredita que o melhor é saber a verdade, doa a quem doer. Mas a minha criança interior gostaria que a verdade fosse do jeito que ela imaginava. Como dizia o Rob em "Alta Fidelidade", que dizia para a ex-namorada algo do tipo: "Eu quero que você diga o que eu quero ouvir, e que seja a verdade".

O que eu admiro no Monteiro Lobato porém, e que continuo a admirar, é que ele tinha obsessão por ser ele mesmo. Autenticidade era o que ele mais buscava. E isso é que faz dele uma figura tão original e tão forte. Mas é claro, que autenticidade não é um dedo de Midas, que faz tudo em que toca virar ouro. O que é pior: um autêntico cafajeste, ou um cafajeste dissimulado? Melhor seria que não fosse cafajeste, certo?

Eu gosto do jeito que Lobato fala o que pensa: que é o que torna o Sítio do Picapau Amarelo tão único na literatura infantil. Mas às vezes ele pensa umas coisas que me assusta, principalmente em relação a negros, pobres, mulheres e deficientes... E não sei se me assusta mais quando aparece de maneira absurdamente explícita como em O Presidente Negro, ou de forma mais velada como no Sítio... Melhor seria que não assustasse? Não sei dizer.