Interplexa

Do Latim Estérico: Inter (prep. "entre") + plexa (particípio do verbo "plicare", "dobrar", "desdobrar", "laçar") Significado: 1. neutro plural:"Coisas entrelaçadas ou que se desdobram internacionalmente" 2. feminino singular: "Mulher (ou menina) de camadas interligadas ou que se desdobra internacionalmente) Vide também: www.internexa.blogspot.com

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Local: Brasília, Toronto

Brasiliense de origem montalvanense desbravando o gelado inverno do doutorado canadense.

27.1.07

Eu tenho pressa, tanta coisa me interessa...

... mas umas coisas mais que as outras...

Dedicação total e exclusiva à vida acadêmica para sempre não é uma delas. Terminar o doutorado sim. Então tive que rever minhas prioridades.

Andei pensando sobre o tema do post passado, eu percebi que tenho um certo hábito de querer abraçar o mundo com as pernas. (Que ditado esquisito!) Em inglês a expressão é "to spread oneself thin": tradução impossível (espalhar-se finamente?), mas a idéia é a mesma: querer fazer um pouco de tudo e acabar não fazendo nada direito.

Então essa semana eu tomei a (senão sábia, pelo menos pragmática) decisão de fazer de conta que eu me interesso por uma coisa só. Temporariamente, mas fazendo de conta que é para sempre, pelo menos até me formar -- de forma a poder me formar. O velho eterno enquanto dure.

Vida acadêmica me interessa, mas um tanto de outra coisa também: e eu tenho pressa. Então, por hora, a resolução é substituir o kid abelha por: atenção... concentração... ritmo... vai começar... e seja o que Deus quiser!

20.1.07

Um pouco de tudo

Eu tinha desistido da vida acadêmica.

Esse negócio de ter de escolher o que fazer pelo resto da vida. Escolher a melhor opção. Ser melhor que os outros. Outros dez anos de vida de estudante. Dez anos até pode começar a viver direito.

Outros dez anos. Eu tinha 17. Dez anos era muita coisa. Outros dez anos de escola era muita coisa.

Decidi deixar a universidade para lá. Era fechar opções muito cedo. Iria trabalhar primeiro, independência financeira, curtir a vida, essas coisas.

As pessoas ficaram perplexas. Afinal, eu tinha a faca e o queijo na mão. E não ia usar?

Eu gosto de saber muito de muita coisa, mas detesto a idéia de concentrar numa coisa só. A melhor profissão. A melhor profissional. A melhor matéria.

Eu gosto de fazer as coisas bem, de saber as coisas a fundo. Mas não gosto dessa pressão de saber uma coisa só mais que todo mundo no mundo. Eu gosto é de variedade.

O que no final das contas me levou à universidade foi o curso com o maior número eletivas. Algo legal para fazer depois do expediente. Conhecer um pouquinho de muitas coisas.

A intenção nem era formar, era só curtir. Mas de matéria em matéria, o curso acabou, e as matérias não. Daí fui para mestrado, doutorado. Fiz sempre mais matéria que o necessário, mas a hora de escolher a especialização, o "tópico", sempre me mata. Não existe especialização em "Um pouco de um tanto de coisa"?

Parece que não. Enquanto isso, os dez anos passaram rapidinho, e a vida de estudante continua.

Acho que os antigos acreditavam que o universo ciclicamente se expande e depois se comprime, e depois se expande, etc. Eu acho que meus interesses só se expandem. Talvez a minha molinha esteja com defeito. Outras coisas me comprimem. Para manter o equilíbrio talvez.

Mas talvez minha atitude esteja trabalhando contra mim. Teoria universal de gases diz que um gas se expande indefinidamente de forma a ocupar todo o volume em que se encontra. Coloque 1 quilo de oxigênio em um recipiente de dez litros, e ele vai ocupar os dez litros. Coloque os mesmo quilo em um recipiente de cem litros, e ele vai ocupar os cem litros todinhos. E se em vez de cem fossem mil litros, a mesma coisa.

Acho que com estudos a coisa funciona do mesmo jeito: eles tendem a ocupar todo espaço que a gente dá, e sempre parece que precisa de mais. Sempre. Nunca vai chegar num ponto que sobra uma folguinha. O que a gente tem que fazer é impor um limite, por um fim na coisa. E para isso, um pouco de pressão ajuda: maior pressão, menor volume, menor pressão, maior volume, mas nunca a pressão chega a zero. Nem o volume.

Acho que foi Einstein que disse que se a gente soubesse o que a gente estava pesquisando, não chamaria de "pesquisa". É o que eu acho também.

Mas parece que o pessoal que banca as pesquisas nunca se contentou com essa explicação.

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12.1.07

Lar Diaspórico - ou "Eterno enquanto dure"

O título do texto da semana passada era na verdade para o assunto desta semana: meu apartamento novo. Tendo tomado a decisão de me sentir em casa onde quer que eu esteja, mudar para um apartamento só meu ajuda.

Mudança é sempre cansativo, mas também é divertido. Acho que sofro da condição crônica de não conseguir se acostumar a ficar acostumada com as coisas. Muito Heraclítico isso.

Sendo assim, mesmo estando neste apartamento só por alguns meses, eu estou me divertindo em deixar ele com cara de casa -- minha casa. Acho que essa sensação é o que a escritora Naomi Scheman chama "lar diaspórico":

A identidade diaspórica é uma forma que o estrangeiro interior pode tomar, e é crucial que não seja só uma questão de estar de passagem, sem ter ligação nenhuma com o lugar onde se está, só se importando com o "lar", seja lá onde ou quando ele for. Pelo contrário, aqueles que vivem diasporicamente muitas vezes trazem para o local de estada recursos de inteligência moral, convicção e coragem. (...) Somente através do envolvimento na reparação do mundo é que eles conseguem ir para casa. (Scheman, p.404)


A idéia do "Lar diaspórico" é parar de esperar pelo lugar onde tudo é ideal, e concentrar em fazer o lugar atual um pouco mais ideal. É um convite a pensar menos em perfeição, e mais em aperfeiçoamento, sem nem fugir do local atual, nem se contentar em deixá-lo como está. A identidade diaspórica lembra que "Lar" é onde se está, e aonde se está indo, e de onde se veio, tudo ao mesmo tempo.

E, como Vinícius de Morais diria, que seja eterno enquanto dure.

* Scheman, Naomi. "Forms of Life: Mapping the Rough Ground." The Cambridge Companion to Wittgenstein. Ed. Hans (ed and introd ). Sluga and David G. Stern. Cambridge, England: Cambridge UP, ix, 1998. 383-410.

5.1.07

Minha terra é a terra que é minha


Estou a trocar de pele: a vermelhidão do Natal no Brasil está descascando, dando lugar às peles quentes do inverno canadense. Quente inverno canadense: as temperaturas recordes de 13 graus centígrados na primeira semana do ano é bem diferente dos 30 abaixo de zero do meu primeiro inverno aqui, ou das poucas vezes que minha família veio me visitar.

É como se no começo o inospitaleiro inverno quisesse provar que aqui não tinha a melhor semelhança com minha terra natal, e ver se eu aguentava. A idéia era fazer com que eu não me sentisse em casa.

Os quatro meses originais viraram oito, depois quatro anos, depois oito. Agora neste meu oitavo inverno na América do Norte eu estou pronta para ir para casa. E como se agora o Canadá quisesse dizer "fica mais, a gente vai fazer o possível para você se sentir em casa", um aquecimento global providencia um tórrido inverno de 13 graus positivos.

Mas 13 graus positivos não são 13 pontos positivos. Aquecimento global não aquece o coração das pessoas. E não é o clima que faz os lugares terem clima de casa. É hora de ir para casa mesmo. Viver num lugar permanente, nem que seja temporário, ao invés de estar permanentemente num lugar temporário. Mochilar por um ano ou dois é ótimo; para sempre, não sei. Chega uma hora que cansa.

Nesses 8 anos, voltei ao Brasil pelo menos uma vez por ano, às vezes duas. Nunca a viagem foi tão penosa como dessa última vez. Além das 24 horas de vôo de sempre (10+2 para ir, o mesmo para voltar), um chá de cadeira de 50 horas no aeroporto (30 para ir, 20 para voltar) bateram recorde de longe. Somam-se a isso 4 noites mal-dormidas (as duas de sempre no avião, mais uma no aeroporto, e uma preocupada em acordar 4 da manhã para estar no aeroporto às 6), pode-se dizer sem exagero que eu achei bem pesado. Talvez tenha sido porque carregava um pouco mais de bagagem que de costume (estou de mudança); talvez porque estou ficando velha para esse tipo de coisa; talvez por que tenha sido pesado mesmo.

Nestas muitas horas de trânsito, li muita coisa interessante: coisas sobre como ficar rico, como conquistar pessoas, como ser feliz, como educar crianças, como escrever uma tese, como ter bons relacionamentos. Uma delas foi do livro de Steven Carter & Julia Sokol, entitulado "O que toda mulher inteligente deve saber", que dizia:

Uma mulher inteligente sabe que...

Se você está realmente a fim de se estabalecer num único lugar, deveria parar de freqüentar aeroportos.
O que me fez pensar: É mesmo. Literalmente.

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Interplexa 2007: Agora com postagem semanal, toda sexta-feira