Interplexa

Do Latim Estérico: Inter (prep. "entre") + plexa (particípio do verbo "plicare", "dobrar", "desdobrar", "laçar") Significado: 1. neutro plural:"Coisas entrelaçadas ou que se desdobram internacionalmente" 2. feminino singular: "Mulher (ou menina) de camadas interligadas ou que se desdobra internacionalmente) Vide também: www.internexa.blogspot.com

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Local: Brasília, Toronto

Brasiliense de origem montalvanense desbravando o gelado inverno do doutorado canadense.

12.7.07

Pessoa Física

Uns dois meses atrás eu me dei conta que eu tinha esquecido de informar ao Ministério da Fazenda que eu estava isenta de declarar meu imposto de renda, porque eu não tinha tido nenhuma renda. Tal esquecimento fez com que meu CPF se tornasse irregular, e agora eu tinha que regularizá-lo de novo.

Então fiz minha visitinha anual ao site da Receita. Mas dessa vez foi diferente. Bem diferente. O site tinha sido todo refeito, e eu não conseguia achar o lugar de regularizar o CPF. Na verdade, não é que o site tinha sido refeito: eles ainda estavam refazendo. E não é que eu não conseguia achar o link: achar eu achava, só que não chegava a lugar nenhum...

Me restavam três opções: 1) ligar para um número 0800; 2) fazer o pedido pessoalmente; 3) deixar pra lá. Opção número 1 estava fora de questão: a combinação 0800 + DDI não dá certo. Opção número 2 também não era muito prática. A não ser que eu fosse ao consulado, ou mandasse uma procuração para alguém. Então eu escolhi a opção número 3, e não fiz nada por uns dois meses.

Até que ontem, do nada, eu lembrei que eu tinha que fazer isso, e resolvi tomar vergonha na cara e ir ao consulado. Eu lembrava que o horário do consulado era bem restrito: das 10 às 14 horas. Eu trabalho das 10 às 16. Mas tenho uma hora de almoço. E o consulado só fica a uma 15 minutos do trabalho.

Então ontem, depois do almoço, eu corri para o consulado. Cheguei lá, descobri que na verdade o horário era de 9 às 13. Mas dessa vez eu decidi não me dar por vencida: resolvi que estaria lá assim que o consulado abrisse. Hoje de manhã, eu tomei meu banho, engoli meu café rapidinho, e pedalei até o consulado. Cheguei lá, fila única, três guichês, um cara chato sozinho atendendo (o cara chato eu já conhecia da vez em que eles perderam meus diplomas de graduação e mestrado. E também da vez em que ele tentou me convencer a não transferir meu título de eleitor para cá, porque dava muito trabalho, e que diferença um voto a mais ou a menos faz).

Lá pelas tantas, o cara chato (usarei a abreviação "CC" para me referir a ele daqui em diante) termina de "atender" as pessoas que ele estava atendendo, e grita: "Próximo!" A próxima na fila era uma senhora elegantemente vestida com um tailleur tamanho GG, que precisava de um visto de negócios para ir para os jogos panamericanos. O CC manda a dona GG para o outro balcão, porque o atendimento de vistos é só lá.

O próximo na fila é um senhor de idade, que também precisa de um visto para ir para o Pan. O CC muito pouco educadamente manda também o senhor de idade para o balcão fantasma, onde a dona GG pacientemente ainda aguarda atendimento. O CC então, no que pode ser interpretado como uma esforço para ser útil e/ou prestativo, vira o olhar para o teto, e grita em plenos pulmões: "tem gente no balcão de visto! Dá pra alguém ver se ajuda? (Meu palpite é que girar a cabeça num ângulo de 90 graus em direção ao interior do consulado é querer demais do seu CC: olhar para cima já é muita prestatividade).

A próxima na fila era uma morena à la Ivete Sangalo, bem alta com seus saltos agulha, linda, leve e solta com seu vestido de verão. Ela informa CC que precisa de um visto de negócios para os jogos panamericanos. O CC arregala os olhos e esquece de fechar a mandíbula por alguns segundos. "Que tipo de esporte você pratica?", pergunta ele muito amigavelmente.

A dona Ivete secamente responde que não é para ela, mas para a chefe que vai ajudar com a organização dos jogos. Todos nós na sala de espera temos então o prazer de descobrir que CC trabalhou por muitos anos no comitê Paraolímpico, e que ele tem muito interesse na parte organizacional de qualquer evento esportivo. Muito atencioso, ele pede os papéis da dona Ivete, para ver se não falta nada, para que ela não tenha que perder tempo na fila do outro balcão.

Nessa altura do campeonato, ficou claro a todos que, ao contrário do seu CC, a senhora GG dava conta de girar o pescoço mais de 90 graus. O senhor de idade então, chegava quase nos 180. A dona Ivete ficou sem graça, recusou educadamente a ajuda, e passou modestamente para a fila dos vistos, onde finalmente apareceu alguém para atender, e todos os pescoços voltaram à uma posição anatomicamente mais adequada.

A próxima pessoa na fila do CC era eu. Ele disse que eu queria fazer era muito trabalho (trabalho para quem?): que o consulado fazia só o papel de correios, e que, ainda assim, não dava nem para garantir que os documentos iam chegar no lugar certo. O melhor mesmo era achar alguém que estivesse indo para o Brasil, e passar uma procuração.

Outra opção seria fazer o requerimento via internet: e ele me deu uma folha de papel com o site da Receita Federal: aquele mesmo que não tinha solucionado meus problemas antes. Com esse papel na mão, eu saí do consulado, e cheguei no trabalho faltando 5 minutos para o expediente. Resolvi dar uma olhada no site. Acabou que o 0800 não é mais um 0800. E que dá para ligar via Skype. E que dá até para digitar os 11 dígitos do CPF no Skype, e os 8 dígitos da data de nascimento (dia, mês e ano). Para minha alegria, a tia da gravação disse que meu pedido tinha sido processado com sucesso, e que transcorridas 24 horas eu poderia acessar o site para ver a situação do meu CPF.

Problema resolvido, com um minuto inteirinho de sobra antes de começar meu expediente. Daí eu fico pensando: pra que simplificar se podemos complicar?