Interplexa

Do Latim Estérico: Inter (prep. "entre") + plexa (particípio do verbo "plicare", "dobrar", "desdobrar", "laçar") Significado: 1. neutro plural:"Coisas entrelaçadas ou que se desdobram internacionalmente" 2. feminino singular: "Mulher (ou menina) de camadas interligadas ou que se desdobra internacionalmente) Vide também: www.internexa.blogspot.com

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Brasiliense de origem montalvanense desbravando o gelado inverno do doutorado canadense.

15.6.07

A Vida dos Outros

Então, eu disse que ler placas e cartazes foi uma das coisas mais divertidas que eu fiz na Grécia (meu senso nerd de diversão). O cartaz ao lado é um exemplo perfeito. Nele está escrito:

"'Oi Zôes tôn allôn"

'Oi = artigo plural

Zôes = "vidas" (tipo "zoológico")

tôn allôn = genitivo plural = "dos outros" (tipo "alopatia")
= "As Vidas dos Outros"

Captei a mensagem! E captar essa mensagem me dá aquela emoção que uma criança sente quando está aprendendo a ler.


Este cartaz é de um filme alemão que assisti recentemente, e tem semanas que eu estou ensaiando de escrever sobre ele e não escrevo. Ele é um dos filmes mais bonitos que já vi. O desenvolvimento dos personagens é absolutamente fantástico, e, no final, eu fiquei com aquela catarse que senti com "Les Miserables" de Victor Hugo, ou "A Tale of Two Cities" do Charles Dickens.

Mais especificamente, esse filme me fez pensar sobre a diferença entre justiça e misericórdia; sobre ser o dono da verdade; sobre observar - e julgar - os outros como se a gente se fosse invisível, ou acima e além de qualquer crítica.

Eu não tenho experiência com atuação, mas eu fico pensando se bons críticos são bons atores. Me parece que na vida cotidiana, os críticos mais críticos estão tão ocupados procurando defeito na atuação dos outros que não sobra tempo para atuar também (e, com todas as minhas teorias, devo confessar que também sofro desse problema). Então eles (nós?) meio que vivemos as vidas dos outros, que nem o cara do filme.

Mas chega um certo ponto, se a gente tiver sorte, que a gente cansa de escrever relatórios sobre o azedume das uvas lá do outro lado da cerca onde a grama parece ser bem mais verde (algo que não confessaríamos nunca). Quando se resolve pular para o outro lado, a gente percebe que a grama é mais verde porque ela é mais bem cuidada, e as uvas não são nem um pouco azedas quanto imaginávamos (Esopo tem uma fábula sobre a raposa e uvas azedas).

E, de repente, estamos compenetrados demais cuidando da nossa própria grama e nossas próprias uvas para ter tempo de caçar defeito na vida dos outros. Quando muito, ficamos felizes que têm outros para receber e aproveitar todas as flores e uvas que a gente não gostaria que apodrecesse no nosso jardim depois de todo esforço e cuidado que dedicamos a elas.