Interplexa

Do Latim Estérico: Inter (prep. "entre") + plexa (particípio do verbo "plicare", "dobrar", "desdobrar", "laçar") Significado: 1. neutro plural:"Coisas entrelaçadas ou que se desdobram internacionalmente" 2. feminino singular: "Mulher (ou menina) de camadas interligadas ou que se desdobra internacionalmente) Vide também: www.internexa.blogspot.com

Minha foto
Nome:
Local: Brasília, Toronto

Brasiliense de origem montalvanense desbravando o gelado inverno do doutorado canadense.

16.6.07

Disco furado

Quem me conhece talvez saiba da minha tendência de ouvir um disco repetidamente até furar. Às vezes é o mesmo disco por alguns dias, às vezes a semana inteira (e às vezes mais: se você duvida, ou se não me conhece, queira por gentileza conferir o post "Comida para a Alma", de abril 2007).

Nas paradas dessa semana o número único foi "The Essential Leonard Cohen". Eu comprei esse disco tem meses, junto com uns outros seis (uma dessas promoções de R$ 0,99 por disco se você comprar tantos discos, e daí você compra, e acaba sendo bem mais que um real por disco que eles usaram de isca, mas nesta altura do campeonato você já se apegou aos discos, então você termina de comprar assim mesmo).

Eu até tenho uma resolução de nunca comprar mais de dois CD´s de uma vez, justamente porque eu preciso de tempo para saborear cada disco novo, escutar até furar ou até meu cérebro se satisfazer que, sim, temos esse disco em nossos arquivos. É como se eu tivesse que gravar o disco no meu cérebro, memorizar os títulos, as ordem das faixas, as letras, para poder ter certeza que realmente eu tenho esse disco, literalmente encorporado à minha coleção, gravado no meu cérebro direito e esquerdo, ouvido direito e esquerdo, lábio superior e inferior, mãos e pernas.

Por algum motivo, apesar de toda essa minha política administrativa burocrática quanto à aquisição de Cd´s, por algum motivo eu nunca cheguei a escutar o Leonard Cohen quando eu comprei. E no meio de tantos discos me pedindo atenção, discos novos a serem gravados no cérebro, disco velho reclamando de falta de carinho, mudanças constantes de uma parte a outra da cidade, eu simplesmente nunca parei para escutar o Leo.

Até essa semana. Um outro fato que as pessoas que me conhecem podem ou não saber sobre a minha pessoa é que de quando em vez eu tenho que escutar todos os meus discos, na ordem que eles estão na prateleira. Então se dessa vez eu vou em ordem alfabética, da próxima vez eu começo com trilhas sonoras do Woody Allen e O Melhor de U2, e vou cantando até chegar no Abba. Se dessa vez é a prateleira de música brasileira, da próxima vez é música internacional. E se dessa vez for a prateleira dos Beatles (eles têm uma prateleira só para eles), da próxima vez é a do Legião (que também tem uma só para eles. Minhas prateleiras são pequeninhas). E foi assim que eu descobri o Leonard Cohen lá quietinho do lado do Phil Collins.

Então eu pus para tocar uma vez. E gostei. Pus de novo. E repeat. E coloquei para tocar até eu dormir. E depois quando eu acordei. E enquanto me vestia para o trabalho. E ao voltar do trabalho. Achei os acordes das minhas músicas favoritas na internet. Toquei "Hallellujah" no violão tantas vezes que já até dou conta de tocar sem olhar (eu sei, lugar comum dizer que a música do Leonard Cohen favorita é Hallellujah. Mas o motivo pelo qual todo mundo gosta de Hallellujah é bem simples: é uma música linda: melodicamente, ritmicamente, letralmente, guturalmente, biblicamente, absolutamente).

E os dias se passaram, e a semana se passou. Meus dedos, sem prática, de repente se sentiram como se fosse o segundo grau de novo. E minha garganta também, e meu violão, e meu coração. Eu só não me atrevi perguntar meus vizinhos o que eles acharam dessa história.