Eu tinha desistido da vida acadêmica.
Esse negócio de ter de escolher o que fazer pelo
resto da vida. Escolher a
melhor opção. Ser
melhor que os outros. Outros dez anos de vida de estudante. Dez anos até pode começar a viver direito.
Outros dez anos. Eu tinha 17. Dez anos era muita coisa. Outros dez anos de
escola era muita coisa.
Decidi deixar a universidade para lá. Era fechar opções muito cedo. Iria trabalhar primeiro, independência financeira, curtir a vida, essas coisas.
As pessoas ficaram perplexas. Afinal, eu tinha a faca e o queijo na mão. E não ia usar?
Eu gosto de saber muito de muita coisa, mas detesto a idéia de concentrar numa coisa só. A melhor profissão. A melhor profissional. A melhor matéria.
Eu gosto de fazer as coisas bem, de saber as coisas a fundo. Mas não gosto dessa pressão de saber uma coisa só mais que todo mundo no mundo. Eu gosto é de variedade.
O que no final das contas me levou à universidade foi o curso com o maior número eletivas. Algo legal para fazer depois do expediente. Conhecer um pouquinho de muitas coisas.
A intenção nem era formar, era só curtir. Mas de matéria em matéria, o curso acabou, e as matérias não. Daí fui para mestrado, doutorado. Fiz sempre mais matéria que o necessário, mas a hora de escolher a especialização, o "tópico", sempre me mata. Não existe especialização em "Um pouco de um tanto de coisa"?
Parece que não. Enquanto isso, os dez anos passaram rapidinho, e a vida de estudante continua.
Acho que os antigos acreditavam que o universo ciclicamente se expande e depois se comprime, e depois se expande, etc. Eu acho que meus interesses só se expandem. Talvez a minha molinha esteja com defeito. Outras coisas me comprimem. Para manter o equilíbrio talvez.
Mas talvez minha atitude esteja trabalhando contra mim. Teoria universal de gases diz que um gas se expande indefinidamente de forma a ocupar todo o volume em que se encontra. Coloque 1 quilo de oxigênio em um recipiente de dez litros, e ele vai ocupar os dez litros. Coloque os mesmo quilo em um recipiente de cem litros, e ele vai ocupar os cem litros todinhos. E se em vez de cem fossem mil litros, a mesma coisa.
Acho que com estudos a coisa funciona do mesmo jeito: eles tendem a ocupar todo espaço que a gente dá, e sempre parece que precisa de mais. Sempre. Nunca vai chegar num ponto que sobra uma folguinha. O que a gente tem que fazer é impor um limite, por um fim na coisa. E para isso, um pouco de pressão ajuda: maior pressão, menor volume, menor pressão, maior volume, mas nunca a pressão chega a zero. Nem o volume.
Acho que foi Einstein que disse que se a gente soubesse o que a gente estava pesquisando, não chamaria de "pesquisa". É o que eu acho também.
Mas parece que o pessoal que banca as pesquisas nunca se contentou com essa explicação.
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