Noticiário
Atenção emissoras das redes Alterego: o Plantão Relâmpago do Jornal Interplexa começa ao toque de um enter:
Boa Noite!
Para comemorar hoje o primeiro mesversário das redes Alterego de comunicação (fundadas por esta humilde escritora), o Ministério da Educação aprovou lei que torna obrigatório o curso de filosofia em todas as instituições de ensino médio do Brasil.
Para mais detalhes sobre esta medida que visa promover a filosofia e a sociologia como "conhecimentos necessários ao exercício da cidadania", vá direto à fonte:
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pceb038_06.pdf
Hoje o Jornal Hoje, da nossa concorrente, até falou do ensino primário também, mas até o fechamento desta edição tal informação não havia sido confirmada oficialmente.
Caso o público venha obter alguma informação a respeito deste assunto, queira por favor entrar em contato com a nossa equipe.
Para quem não sabe, fontes confiáveis já algum tempo firmaram com a vossa escritora/repórter/filósofa de plantão o seguinte a seguinte proposta de pesquisa. Caberá a supra-citada autora, em troca de sua mesada anual, trabalhar com escolas de ensino médio e básico, assim como ex-alunos que cursaram filosofia pré-universitária. A idéia é elaborar um argumento bem embasado para convencer o público educacional canadense da inusitada importância de se ter acesso ao ensino de filosofia no ensino médio e até no ensino básico.
Daí o Brasil vai e dá um pulo a frente desse!
E você que viu a minissérie "Meu Interior" e ficou achando que o Brasil era o país mais atrasado do mundo nesta questão de educação, hein? Mas aqui e ali, o Brasil tem muito de se orgulhar nesse campo de educação (vide Paulo Freire, Nísia Floresta e Monteiro Lobato, por exemplo). A gente é que não sabe das pérolas que tem. Mas é vivendo e aprendendo.
O Nosso Plantão fica por aqui. Boa noite, e obrigada pela sua audiência ao longo de todos esses 31 dias!
[Termina aqui o Plantão Interplexa de 3 de agosto de 2006.]
Boa Noite!
Para comemorar hoje o primeiro mesversário das redes Alterego de comunicação (fundadas por esta humilde escritora), o Ministério da Educação aprovou lei que torna obrigatório o curso de filosofia em todas as instituições de ensino médio do Brasil.
Para mais detalhes sobre esta medida que visa promover a filosofia e a sociologia como "conhecimentos necessários ao exercício da cidadania", vá direto à fonte:
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pceb038_06.pdf
Hoje o Jornal Hoje, da nossa concorrente, até falou do ensino primário também, mas até o fechamento desta edição tal informação não havia sido confirmada oficialmente.
Caso o público venha obter alguma informação a respeito deste assunto, queira por favor entrar em contato com a nossa equipe.
Para quem não sabe, fontes confiáveis já algum tempo firmaram com a vossa escritora/repórter/filósofa de plantão o seguinte a seguinte proposta de pesquisa. Caberá a supra-citada autora, em troca de sua mesada anual, trabalhar com escolas de ensino médio e básico, assim como ex-alunos que cursaram filosofia pré-universitária. A idéia é elaborar um argumento bem embasado para convencer o público educacional canadense da inusitada importância de se ter acesso ao ensino de filosofia no ensino médio e até no ensino básico.
Daí o Brasil vai e dá um pulo a frente desse!
E você que viu a minissérie "Meu Interior" e ficou achando que o Brasil era o país mais atrasado do mundo nesta questão de educação, hein? Mas aqui e ali, o Brasil tem muito de se orgulhar nesse campo de educação (vide Paulo Freire, Nísia Floresta e Monteiro Lobato, por exemplo). A gente é que não sabe das pérolas que tem. Mas é vivendo e aprendendo.
O Nosso Plantão fica por aqui. Boa noite, e obrigada pela sua audiência ao longo de todos esses 31 dias!
[Termina aqui o Plantão Interplexa de 3 de agosto de 2006.]
16 Comments:
essa notícia é muito boa. o curso de filosofia é essencial para estudantes que qualquer área. que bom que o Brasil deu esse passo. o único problema que eu vejo é a forma como as aulas são ministradas e a falta de interesse por parte dos estudantes . Muitos colegas meus de 2 grau consideravam as aulas "disciplina do sono". ou seja, não basta ser obrigatório, tem que rolar uma conscientização da importância.
enfim, esse foi o primeiro passo...
bjs
É Naty, realmente, o ensino de filosofia no segundo grau, assim como muitas vezes educação artística, educação física e língua estrangeira, é só faz de conta, para inglês ver. Mas não sei se a falta de interesse é só do lado dos alunos. No meu caso por exemplo, eu estava super interessada, mas não saía do verbo "to be" todo começo de semestre.
Mas o que eu acho legal da proposta é abrir o espaço para esse tipo de discussão. E só o passar da lei já é tomar a iniciativa para uma valorização. É, como você diz, só um primeiro passo, mas um passo importante.
Beijocas,
Ester
*****
Acho que o importante é levar a Filosofia a sério dentro do projeto pedagógico. O que não pode é educar os alunos demonstrando que Filosofia, Sociologia e Inglês são disciplinas menos importantes, secundárias. Acho que vale até incluir no vestibular. Claro, sempre vai ter quem se interesse ou não. Como acontece com matemática e história. Mas se ela for respeitada, a "galerinha" para de encarar como "disciplina do sono".
Filosofia pra mim no Cor Jesu era escutar Pais e Filhos, do Legião Urbana. "Você diz que seus pais não te entendem, mas você não entende os seus pais..." Bonito isso, né? É. Legal, legal.
Depois vinha a aula de Matemática, recreio, Português, Ciências e Grande Circular. Na meia hora de Grande Circular se aprendia mais que nas cinco aulas do dia.
Ok, Ester - aceito seu convite de mudar a discussão para cá.
Primeiro de tudo, li o documento a que você se refere, e o que diz lá não é que a filosofia (e a sociologia, mas essa pouco me importa) é necessária ao exercício da cidadania, mas que os alunos devem ter conhecimento de filosofia necessário para o exercício da cidadania. A lei parece se comprometer com a tese modesta de que *uma parte* da filosofia é necessária ao exercício da cidadania, enquanto você dá a entender (mesmo que não tenha pensado assim) que *toda* filosofia seria necessária ao exercício da cidadania.
O problema é saber *qual* parte é essa. O relatório não diz, e, pelo que ele diz, o projeto de lei também não. Eu não faço a menor idéia de que parte seja essa - estudo filosofia há um tempo, e não acho que hoje exerça minha cidadania melhor do que antes. Aliás, eu não faço a menor idéia do que seja exercer minha cidadania!
No fim, concordo com seu irmão - não vejo a menor razão para ficar otimista...
LM
Luís,
Para ver se eu entendi seu comentário, vou substituir "filosofia" por "história", e ver o que acontece.
Então, digamos que comemorasse uma lei que exigisse o ensino de história no segundo grau porque "história é necessária ao exercício da cidadania".
Daí você poderia perguntar:
1) É a História que é necessária, ou o conhecimento de História?
2) A História inteira, ou só uma parte? E qual parte?
3) Se a História é assim tão necessária para o exercício da cidadania, como explicar que possa ter pessoas como eu, que estudaram história bastante, mas não acham que ajudaram em nada em seu "exercício de cidadania" (a ponto de nem saber o que isso significa).
4) E, dado 3, para quê ficar otimista com anúncio da propagação do ensino de História?
Para não ficar muito ruim de ler, eu vou colocar uma resposta comentário, senão fica muito cansativo.
1) A História é necessária, ou o conhecimento de História?
Os dois, eu acho. É que nem Tostines. Sem História não existe conhecimento de História, mas sem conhecimento de História não há História.
Mais: sem uma preocupação com o ensino de História, a História não se renova. É legal pensar que a pessoa ao aprender História de uma maneira faz História também.
2) A História inteira, ou só uma
parte? E se for uma parte, qual?
Eu acho que a História inteira contribui, mas que é difícil, se não impossível, para uma pessoa dominar o campo todo da História (ou da Matemática, ou da Física), ainda mais no segundo grau.
Então acho que qualquer pouco que você aprenda, contribui um pouco.
Só deu para estudar História do Brasil? Quem bom conhecer um pouco da História do Brasil. Deu para estudar Brasil e um pouco de América também? Melhor ainda. Só deu para estudar História Antiga e Medieval? Muito bom, melhor que nada.
3) Se a História é assim tão necessária para o exercício da cidadania, como explicar que possa ter pessoas como eu, que estudaram história bastante, mas não acham que ajudaram em nada em seu "exercício de cidadania" (a ponto de nem saber o que isso significa).
Bom, aqui que a distinção entre "necessário" e "suficiente" ajuda.
Acho difícil alguém contribuir para a História sem ter um pingo de consciência histórica. Por outro lado, conhecimentos profundos de todo campo da História não fazem alguém entrar para a História automaticamente. Depende de como a pessoa utiliza seus conhecimentos teóricos para ajudar na sua prática.
Conhecimento de História é necessário, mas não é suficiente.
Aliás, na verdade não é assim nem tão muito necessário, pois muita gente fez História sem ter muito conhecimento formal de História.
Mas daí entra o conhecimento informal, que vem do ambiente, da cultura oral do lugar, do conversar com as pessoas, com o observar a realidade. E nesse ponto, um passeio de Grande Circular ensina tanto senão mais que a sala de aula.
Então: conhecimento de História não é suficiente e talvez nem necessário para fazer História. Mas ajuda pra caramba.
3b) Como assim "conhecimento de História ajuda no exercício ativo da cidadania", se eu nem sei o que quer dizer "exercício ativo da cidadania"?
Olha, para responder essa pergunta a gente tem que apelar para a filosofia. Só que aqui a gente não está falando de filosofia (aliás, quem é que tem o mínimo conhecimento de filosofia nesse país?).Então não posso fazer nada. Vamos voltar para a História.
4) E, dado que nem todo mundo que estuda História entra para História (ou exercita ativamente sua cidadania), para que ficar otimista com anúncio da propagação do ensino de História?
Realmente, ensino de História puro e simples não faz ninguém entrar para a História, ou nem aprender História necessariamente, quanto menos "exercitar ativamente sua cidadania".
Mas o fato da disciplina estar presente na escola torna esse conhecimento mais acessível: no mínimo no mínimo pelo menos os alunos ficam sabendo da existência desse campo de estudos.
E não só isso. A inclusão de História no currículum de ensino médio não só pode aumentar o número de pessoas que vão escolher entrar depois para a História na Universidade, mas expande o campo de trabalho para as pessoas que já fizeram essa escolha. Dá uma valorizada na profissão, sabe? Coloca ela no mapa.
É claro que a mera inclusão do ensino de História não garante qualidade de ensino. Mas o fato da qualidade do ensino de inglês ou de artes no segundo grau ser ruim não quer dizer que aprender inglês ou artes é inútil, ou que um estudante de segundo grau não tem capacidade para dominar esses conhecimentos. É mais uma questão de melhorar a capacitação dos professores. Professor tem que muito que aprender também. De uma certa maneira força uma capacitação profissional melhor do professor de história. E eu acho tudo isso positivo.
Ester,
obrigado pela pronta resposta. Ainda discordo de você em alguns quesitos, e tenho dificuldade de entender outras coisas.
De início, não sei se sua comparação ajuda – volto a falar dela no final. Vou começar pelos pontos que você destacou, dizendo o que acho de cada um deles, qual deles me preocupava no meu post original.
1) É a história que é necessária ou o conhecimento da história?
Não tenho dúvidas, se alguma coisa é necessária, é o conhecimento da história.
Você tem razão em dizer que, sem história, não há conhecimento de história. Mas você está errada em dizer que, sem conhecimento de história, não há história. Obviamente, nós não conhecemos todos os detalhes da história – sei lá – dos maias, o que não quer dizer que ela não exista. O ponto mais amplo é óbvio: o conhecimento de X implica (ou pressupõe) a existência de X, mas a existência de X não implica (nem pressupõe) o conhecimento de X (a não ser que você defenda algum tipo radical de idealismo, de acordo com o qual tudo que existe existe como idéia de Deus).
2) A história inteira, ou só uma parte? Qual parte?
Você diz que todo conhecimento de história contribui, e que toda parte contribui um pouco. Por que você acha isso? Não vejo nenhuma evidência para sustentar essa relação causal, e muito do que você diz em resposta a (3) parece criar dificuldades.
3) Necessidade vs. suficiência do ensino de história
Sim, é uma boa firmar a discussão nesses termos. Mas eu não estava confundindo quando disse o que disse – eu queria justamente mostrar esse abismo entre a necessidade e a suficiência. Então, nós concordamos (provisoriamente): conhecimento de história é necessário, mas não suficiente para o exercício de cidadania.
O primeiro ponto, então, anti-otimista, é que justamente o que a lei propõe a fazer é, de novo, nos dar conhecimento necessário, mas não suficiente. Isso parece redundar na mesma situação que você critica a todo o tempo no seu blog: teoria que não gera nenhuma prática. Você pode até dizer que nós teremos um monte de alunos que sabem como exercer a cidadania, mas sem a motivação para tanto. Neste caso, qual é o ganho?
Eu tinha entendido o comentário cínico do seu irmão nesse sentido: a vida fora da escola nos ensina muito mais prática (e às vezes teoria) do que a escola. Se é assim, por que comemorar?
Mas o ponto mais profundo, que é a minha reclamação na questão (2) ali em cima, é justamente sobre se o conhecimento de história de fato é necessário ao exercício da cidadania. E justamente neste ponto você vacila: você concorda que muita gente que não conhece nada de história muitas vezes exerce bem sua cidadania. Ora, a história é ou não necessária ao exercício da cidadania? Você conclui dizendo, bem mais modestamente, que “ajuda pra caramba”, e isso me parece muito pouco. Será que “ajudar pra caramba” é razão boa o bastante para torná-la disciplina obrigatória?
Quero dizer, se o principal argumento para a aprovação da lei era que a filosofia (ou parte dela) era necessária para o exercício da cidadania, parece que sua atual admissão de que ela só ajuda pra caramba (e talvez até menos que um passeio de Grande Circular) mina toda a credibilidade da lei. E toda a razão para otimismo.
[continua...]
LM
[...continuando]
4) Por que o otimismo?
No fim, você defende chão bem raso para seu otimismo: você diz que a vantagem da inclusão da história no currículo básico são duas, tornar o conhecimento mais acessível e valorizar a profissão.
Eu consigo entender muito bem sua segunda razão, e acho um tipo virtuoso de egoísmo. Mais que isso, concordo com você: é bom valorizar minha profissão. Mas vejo dois problemas aí.
O primeiro tem a ver com o que você admite na seqüência – a falta de professores qualificados. Do jeito que a filosofia é ensinada, preferia que ela não fosse. Os livros são ruins, os professores parecem ser. Neste caso, acho que o que está sendo feito é um desserviço à profissão (vide o comentário acima que fala da filosofia como “aula do sono”). Resumindo, concordo com seu fim (devemos valorizar nossa profissão), mas sou muito suspeito dos meios (torná-la obrigatória no segundo grau) para atingi-lo.
O segundo tem a ver com o bairrismo dessa defesa. É bom para os professores de história que a história se torne obrigatória, mas e para os alunos?
Quanto à sua outra razão para otimismo, tornar o conhecimento mais acessível, eu concordo que isso é bom. Mas isso está a milhas de distância da proposta inicial da lei, e do seu primeiro otimismo. Tornar certos conhecimentos mais acessíveis é bom, mas não porque os conhecimentos sejam bons em si, mas simplesmente porque é bom para os alunos ter acesso à maior diversidade de conhecimentos, para que eles possam escolher um a que se dedicar. Nessa esteira, quanto mais diversidade de conhecimentos oferecermos, melhor – mas isso é compatível com a filosofia (e outras disciplinas, como literatura russa e cálculo) ser optativa, e não obrigatória. Se fosse para defender alguma tese, defenderia esta.
5) A analogia história/filosofia
Não entendi a razão da sua analogia. Tudo ficaria claro se você tivesse dito filosofia em vez de história. Mais que isso, dada a natureza amplamente diferente das duas disciplinas, seria possível, por exemplo, que tivéssemos conclusões bem díspares: por exemplo, uma delas sendo necessária ao exercício da cidadania e a outra, não. A meu ver, não está claro que alguma das duas seja necessária (ou suficiente) para o exercício da cidadania, então a analogia foi inócua, mas ela foi também despropositada.
Mas um detalhe me chamou a atenção. Lá pelas tantas, quando falando dos benefícios práticos do conhecimento de história, você muda de assunto: em vez de falar de como o conhecimento de história influencia no exercício da cidadania, você diz como ele pode fazer alguém entrar para a história. E isso parece interessante – quer dizer, você parece tomar como vocação natural da história a capacidade de produzir agentes históricos. O natural, então, seria pensar que a filosofia forma filósofos, não cidadãos. Qual, então, a conexão entre filosofia e cidadania? A dúvida permanece.
LM
Luís,
Eu comparo filosofia com história porque acho que as duas são igualmente importantes numa "educação liberal". Eu nunca vi ninguém discutir se história deveria ou nao ser ensino obrigatório no segundo grau. E eu não vejo porque com a filosofia deveria ser diferente.
O ensino médio no Brasil não é que nem em outros países em que se tem matérias eletivas. É gradinha fechada para todo mundo. É claro que a discussão sobre grade fixa vs. eletivas é muito válida. A comemoração então não é tanto pela obrigatoriedade da filosofia em si, mas sim pelo fato de ter sida elevada ao status de outras matérias de segundo grau como a história e a matemática. É
aquela alegria de quem finalmente deixou de dormir de favor num colchão na casa dos outros e passou a ter seu próprio espaço de fato e de direito.
Não que isso resolva todos os problemas do mundo. Mas é uma pequena vitória. Qual o mal de comemorar? A alegria, nem que seja com coisa tão pouca, me dá ânimo para tentar melhorar o que falta, o que não é pouco. Pode ser que só eu ache isso legal, e eu entendo muito bem os que não compartilham de meu otimismo. Acho que até o desânimo dos pessimistas eu entendo. Agora gastar energia com anti-otimismo ativo é uma coisa da qual eu não vejo a utilidade.
[continua]
Necessário vs. ajuda pra caramba
Se ao invés da história ou da filosofia eu tivesse dito que a alfabetização é necessária para o exercício ativo da cidadania, talvez a explicação tivesse sido mais clara. É claro que alguém ainda poderia dizer que "existem vários analfabetos que exercem bem sua cidadania, que transformam a realidade, que fazem história". Se isso então prova que alfabetização não é necessária para a participação ativa na sociedade, o fato ainda permanece que o não saber ler dificulta muitíssimo tal participação. Daí dizer que a alfabetização, senão necessária para o exercício ativo da cidadania, pelo menos ajuda pra caramba. Mas eu ainda prefiro arredondar para cima e dizer que é necessaria ponto. Dá um toque retórico mais dramático.
Mas que que é esse tal de "exercício ativo da cidadania", e o que que a filosofia, a alfabetização ou a educação tem a ver com isso?
No começo do "Ensaio sobre o Entendimento Humano", Hume usa a definição aristotélica do ser humano como animal racional e social para dizer que se um desses três aspectos (animal, racional, social) sobressai ou atrofia, a pessoa não está vivendo plenamente seu potencial humano. Por exemplo, se o social sobressai tanto que não se tem tempo para filosofar, ou não comemos e dormimos direito, temos um desequilíbrio. Por outro lado, se a filosofia nos prende à poltrona e a gente se esquece do lado animal ou social, também temos um desequilíbrio. Da mesma maneira, se só comemos e dormimos, e nem estudamos nem nos relacionamos, mais um desequilíbrio.
Pode ser que Aristóteles estivesse errado quando disse que o ser humano é um animal político, ou Platão quando disse que a diferença entre indivíduo e estado é só questão de escala. Mas estas questões em si mesmas são filosóficas.
Não só isso. Decidir ser uma pessoa apolítica é em si mesmo uma decisão política, e qualquer debate desesa natureza é um debate tanto político como filosófico.
E esse é o tipo de debate que alunos de segundo grau têm toda capacidade e direito de fazer. E porque não encorajá-los, e dar a eles algumas ferramentas teóricas? Não acho que seja só professor de filosofia que ganha com isso. Todo mundo ganha.
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