Mutatis Mutandi
Tudo começou no dia que eu cheguei do Canadá em Brasília, quando o Francisco me chamou para ir na defesa da monografia da Naty no dia seguinte.
Então eu fui. Foi super legal. Era sobre Chico Buarque. Depois da defesa, saímos um grupo super legal, com uma discussão massa. Cérebro a mil.
Me toquei então que apesar de ter escutado muito Caetano e Raul desde a infância, Chico Buarque era um desses grandes artistas que eu conhecia por osmose, mas não conhecia muito bem.
Resolvi então tirar o atraso. Cheguei em casa, e fui escavando e colocando para tocar tudo que achava do Chico (do Chico Buarque nas coisas do Chico meu irmão). Como é tudo muito conhecido, não foi assim, "ó, que música diferente". Mas teve aquela surpresa de reparar pela primeira vez algo que você já ouviu milhões de vezes mas nunca se deu conta. Aquela coisa do "cara, surpreendente, né? Mas ao mesmo tempo previsível..."
As primeiras risadas vieram em ouvir "Façamos". Não foi só por que a letra é muito engraçada, mas porque é uma versão muito bem bolada de "Let´s do it (Let´s Fall in Love)", de Cole Porter, que é sempre a música de aquecimento da minha aula de dança. Risadas comparáveis às que vieram com a "Ópera do Malandro", uma versão tão fantástica de "Mack the Knife", que nem parece versão de tão bem feita.
Mas o que me fez pensar "Caramba, tenho que fazer um blog sobre isso!" foi "Mulheres de Atenas". Essa música tem tão tudo a ver com que estou estudando, que é de cair para trás. Só que quando saiu o blog, eu tinha que resumir antes o que estou estudando (Page du Bois, J.R. Martin, etc), então o blog só foi aumentando. E assim chegamos aqui.
Vocês entendem mais de Chico do que eu, então não vou reinventar a roda aqui com análises delongadas de uma música muito bem sacada (se quiserem uma, vide http://www.mundocultural.com.br/analise/Mulheres_de_Atenas.PDF). Mas acho que se a Page du Bois ou a Jane Roland Martin ouvissem (e entendessem) essa música, elas iam delirar.
Fora a rima e o ritmo que são simplesmente de outro mundo de geniais, o embasamento clássico e o paralelo com a realidade atual é coisa absolutamente fora de série. O que eu acho fabuloso no Chico é a manha que o cara tem de adaptar obras de artes feitas em lugares, épocas e realidades tão diferentes e recompor com tanta graça que parece que é coisa dessa realidade nossa aqui e agora. É assim com a "Opera do Malandro" e com "Façamos". É assim também com "Mulheres de Atenas."
Desde a primeira linha ("Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas") vemos, de forma irônica mas muito bem enquadrada, a idealização de costumes dos antigos que é objeto de ataque de estudos tipo o de du Bois. A descrição do ideal de mulher "sem gosto, vontade, sem nem defeito nem qualidade" ficou tão perfeita, que muita gente achou que o Chico estava falando sério.
Pode parecer erro absurdo para alguns, causado ou por histeria e hipersensibilidade femininas, ou ignorância e machismo masculinos, de achar que o Chico queria que a música fosse interpretada ao pé da letra. Mas dado o tanto de material teórico "sério" com esse tipo de retórica, além do tanto que este modelo de submissão ainda se repete em prática, tal erro é totalmente compreensível.
O que não quer dizer que podemos deixá-lo passar batido, só sacudir os ombros admirados da ignorância das pessoas. O erro é grosseiro, é sim. Mas é um erro que só prova o quanto a sociedade contemporânea ainda é grosseira. O simples cogitar que "Mulheres de Atenas" seja um ideal de verdade prova que, neste aspecto, não estamos muito a frente dos gregos de mais de três mil anos atrás em termos de igualdade. Isso é triste. Também triste é não reconhecer esse fato, e achar que já alcançamos esta igualdade, como se pensamento positivo puro e simples bastasse.
É isso que eu acho legal nos trabalhos que apresentei aqui, como o de Martin, du Bois, Reagan, Monteiro Lobato, e outros que vão aparecer ainda, como Paulo Freire, bell hooks, Nísia Floresta e Cecília Prada. E é justamente nessas horas que eu queria ter a manha do Chico de traduzir obras de uma realidade para outra e fazer a versão mais original até que o original. Mas enquanto o gênio não vem, deixo-os com o originalíssimo Chico.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro se encolhem
Se confortam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas.
Referências, alusões e recomendações:
- "A Odisséia", de Homero
- "Mulheres de Atenas", de Chico Buarque
- "Let´s Do It (Let´s Fall in Love)", de Cole Porter (e também o "Façamos (Vamos Amar)", do Chico)
- "Mack the Knife", de Bob Darin (e também a "Opera do Malandro", do Chico)
- http://www.mundocultural.com.br/analise/Mulheres_de_Atenas.PDF
Então eu fui. Foi super legal. Era sobre Chico Buarque. Depois da defesa, saímos um grupo super legal, com uma discussão massa. Cérebro a mil.
Me toquei então que apesar de ter escutado muito Caetano e Raul desde a infância, Chico Buarque era um desses grandes artistas que eu conhecia por osmose, mas não conhecia muito bem.
Resolvi então tirar o atraso. Cheguei em casa, e fui escavando e colocando para tocar tudo que achava do Chico (do Chico Buarque nas coisas do Chico meu irmão). Como é tudo muito conhecido, não foi assim, "ó, que música diferente". Mas teve aquela surpresa de reparar pela primeira vez algo que você já ouviu milhões de vezes mas nunca se deu conta. Aquela coisa do "cara, surpreendente, né? Mas ao mesmo tempo previsível..."
As primeiras risadas vieram em ouvir "Façamos". Não foi só por que a letra é muito engraçada, mas porque é uma versão muito bem bolada de "Let´s do it (Let´s Fall in Love)", de Cole Porter, que é sempre a música de aquecimento da minha aula de dança. Risadas comparáveis às que vieram com a "Ópera do Malandro", uma versão tão fantástica de "Mack the Knife", que nem parece versão de tão bem feita.
Mas o que me fez pensar "Caramba, tenho que fazer um blog sobre isso!" foi "Mulheres de Atenas". Essa música tem tão tudo a ver com que estou estudando, que é de cair para trás. Só que quando saiu o blog, eu tinha que resumir antes o que estou estudando (Page du Bois, J.R. Martin, etc), então o blog só foi aumentando. E assim chegamos aqui.
Vocês entendem mais de Chico do que eu, então não vou reinventar a roda aqui com análises delongadas de uma música muito bem sacada (se quiserem uma, vide http://www.mundocultural.com.br/analise/Mulheres_de_Atenas.PDF). Mas acho que se a Page du Bois ou a Jane Roland Martin ouvissem (e entendessem) essa música, elas iam delirar.
Fora a rima e o ritmo que são simplesmente de outro mundo de geniais, o embasamento clássico e o paralelo com a realidade atual é coisa absolutamente fora de série. O que eu acho fabuloso no Chico é a manha que o cara tem de adaptar obras de artes feitas em lugares, épocas e realidades tão diferentes e recompor com tanta graça que parece que é coisa dessa realidade nossa aqui e agora. É assim com a "Opera do Malandro" e com "Façamos". É assim também com "Mulheres de Atenas."
Desde a primeira linha ("Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas") vemos, de forma irônica mas muito bem enquadrada, a idealização de costumes dos antigos que é objeto de ataque de estudos tipo o de du Bois. A descrição do ideal de mulher "sem gosto, vontade, sem nem defeito nem qualidade" ficou tão perfeita, que muita gente achou que o Chico estava falando sério.
Pode parecer erro absurdo para alguns, causado ou por histeria e hipersensibilidade femininas, ou ignorância e machismo masculinos, de achar que o Chico queria que a música fosse interpretada ao pé da letra. Mas dado o tanto de material teórico "sério" com esse tipo de retórica, além do tanto que este modelo de submissão ainda se repete em prática, tal erro é totalmente compreensível.
O que não quer dizer que podemos deixá-lo passar batido, só sacudir os ombros admirados da ignorância das pessoas. O erro é grosseiro, é sim. Mas é um erro que só prova o quanto a sociedade contemporânea ainda é grosseira. O simples cogitar que "Mulheres de Atenas" seja um ideal de verdade prova que, neste aspecto, não estamos muito a frente dos gregos de mais de três mil anos atrás em termos de igualdade. Isso é triste. Também triste é não reconhecer esse fato, e achar que já alcançamos esta igualdade, como se pensamento positivo puro e simples bastasse.
É isso que eu acho legal nos trabalhos que apresentei aqui, como o de Martin, du Bois, Reagan, Monteiro Lobato, e outros que vão aparecer ainda, como Paulo Freire, bell hooks, Nísia Floresta e Cecília Prada. E é justamente nessas horas que eu queria ter a manha do Chico de traduzir obras de uma realidade para outra e fazer a versão mais original até que o original. Mas enquanto o gênio não vem, deixo-os com o originalíssimo Chico.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro se encolhem
Se confortam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas.
Referências, alusões e recomendações:
- "A Odisséia", de Homero
- "Mulheres de Atenas", de Chico Buarque
- "Let´s Do It (Let´s Fall in Love)", de Cole Porter (e também o "Façamos (Vamos Amar)", do Chico)
- "Mack the Knife", de Bob Darin (e também a "Opera do Malandro", do Chico)
- http://www.mundocultural.com.br/analise/Mulheres_de_Atenas.PDF
10 Comments:
Exxxté,
Adorei o post de hoje. Eu nunca comentei, mas eu ja li todos os textos do blog e gostei muito deles. Claro, esse foi o melhor. Não, não é só pela citação a minha pessoa, mas pela citação ao Chico Buarque. Eu nem preciso dizer o tanto que eu admiro esse cara, né? Tenho que admitir que quando eu comecei a ler o texto e vi que você ia falar sobre Mulheres de Atenas, lá no fundo, eu temi que você cometesse o mesmo erro que muitas pessoas cometem ao analisar a letra da música. Aí eu pensei na mesma hora "A Ester não vai fazer isso" e você surpreendentemente, mas ao mesmo tempo previsível, não só não errou, como analisou esse erro. Muito bom, muito bom mesmo.
Adorei o post.
beijinhos
Muito bom! Muito bom mesmo. Já li todos os texto, mas, como a naty, nunca tinha comentado. Não poderia deixar essa passar. Precisava dizer q esse post tá muito bom!
(ah! sou amiga do Chico, lá do CEub)
É isso mesmo Estér. A música do Chico passa pra mim essa idéia: sarcasmo. O que ele quer dizer é que a sociedade diz para as mulheres o tempo todo que, para serem corretas, elas devem se mirar no exemplo das mulheres de Atenas. É ironia. Tipo "vai lá, seja uma mulher 'sem gosto, vontade, sem nem defeito nem qualidade'".
É mesmo um grande risco não perceber que a música do Chico é uma crítica e não um incentivo a esse tipo de comportamento. E não só nessa. Eu mesma confesso que certas vezes tenho dificuldade de interpretá-lo. E em outras o considero realmente machista. Mas nesse caso consigo enxergar a crítica, a ironia.
Sabe como é, Chico é assim "surpreendente e ao mesmo tempo previsível"...
ótimo post, ester! mas eu não poderia deixar de dizer pra mari: mari, o chico, claro, ele não é imune a neurose machista, mas as músicas dele, as que não são explicitamente irônicas, no caso, não são machistas, de forma alguma. elas apenas narram uma questão que é corrente na sociedade, o que ele vê acontecendo, quase como um antropólogo. quando ele diz em feijoada completa, por exemplo, "mulher, não precisa por a mesa nem dar lugar", apontando as tarefas uma por uma, isso não quer dizer que isso seja uma concepção ou atitude que ele tomaria. ele apenas narra o cotidiano de muitas famílias nos rituais de almoço, jantar e etc. ou seja, ele admite que existe machismo na sociedade! outra ironia dele, que não parece ser ironia (o que torna mais irônico ainda), é ele "naturalizar" a questão do gênero. por exemplo, em "olhos nos olhos", ele mostra a tensão da mulher ao encontrar o ex, aquela coisa de parecer bem na frente do homem (naturalizada como comportamento feminino), de forma fantástica e igualmente irônica.
desculpa o desabafo, é que senão, daqui a pouco vão dizer que "apesar de você" é uma música romântica, de amor.
beijo, beijo!
eu me recuso a comentar o comentário da Mariana. Só tenho a dizer que o Chico é brilhante por vários motivos e um deles é muito especial: o fato dele não ser machista. Mari, sugiro que você analise o universo Chico Buarque de Hollanda e depois volte a pensar a questão, por favor.
Hahahah adorei a polêmica. Só não sei se a Estér está muito feliz de usarmos o blog dela para essa discussão, que talvez não se aproxime muito do tema principal. Mas enfim, se ela reclamar a gente para.
Naty você não consegue nem comentar o meu post porque está infectada com o vírus do fanatismo - do qual provém a palavra fã. E para uma fã seu ídolo não tem defeitos.
Portanto vou me ater a comentar a crítica da Silvinha. Não vamos misturar as coisas. Como eu disse, Chico é realmente um autor difícil de interpretar. Mais do que isso, ele é um autor que dá margem a interpretações diversas sobre seu discurso. Mesmo assim, não vejo como uma música como "Com açúcar, com afeto" ser uma ironia. Na minha interpretação não é. E olhe que eu não sou o tipo de pessoa que interpretaria "Apesar de você" como uma música de amor.
Por outro lado também confesso que o Chico sabe dar show, quando quer, de elevação ao espírito feminio - respeitando-o ao máximo. Esse dom fica claro no seu último CD com "Ela faz cinema" - a música que mais gosto. Nessa música ele apresenta uma mulher complexa que deixa o narrador inseguro por não conseguir compreendê-la nem tão pouco dominá-la. Fascinante.
Ele não é perfeito, porque ninguém o é. E como FÃ, que provém da palavra fanatismo, sei muito bem das imperfeições de Chico.
não vou alongar a discussão, porque para mim não tem lógica ficar discutindo com alguém que não sabe muito bem do que está falando.
Foi mal, Ester. Essas foram minhas últimas palavras sobre o assunto.
Bom, já que o assunto continuou, e a Ester está viajando e nos privando de novos posts, resolvi voltar de novo.
Antes de mais nada para dizer que acho realmente uma pena que aquelas tenha sido as últimas palavras da Naty sobre o assunto. Uma pena mesmo. Afinal, ela fez uma monografia sobre o Chico e isso provavelmente a torna mais capacitada do que eu para analisar as músicas dele. Sendo assim, é uma pena que ela se limite a dizer que eu sou "alguém que não sabe muito bem sobre o que está falando". Seria ótimo receber uma aula de Chico Buarque de você Naty!
Quanto ao Rodrigo, deixa eu ver se entendi bem - afinal pela ótica da Naty eu não sou muito boa de interpretação... Vc quis dizer que "Com açúcar e com afeto" é uma música "daquelas", ou seja, machista, à pedido da Nara Leão? Outra pergunta: Quando você diz, Rodrigo, que o "autor pode expor somente o que faz parte de suas convicções" e depois que "o conteúdo das músicas não pode ser transportado necessariamente para o autor", não está se contradizendo?
Sobre Com açucar e com afeto: isso mesmo. Ela foi feita com uma ótica machista. Como o conteúdo é machista, creio que podemos colocá-la como uma música machista. Mas isso não quer dizer que o autor da canção o é. Acho isso já que classificamos músicas como de esquerda, engajadas etc. Esse foi meu argumento. Sobre a outra pergunta, o autor PODE expor nas músicas conteúdos de sua identificação, portanto não é condição necessária. Por isso não é contradição. Já que é apenas uma possibilidade tal exposição, eu não parto do pressuposto de que ele está fazendo isso.
Olá pessoal,
Eu achei a polêmica massa, a idéia era essa mesmo, saiu até melhor que a encomenda. Surpreendente, mas ao mesmo tempo previsível.
Sem querer queimar muito meu filme mas já queimando, eu não conheço muito o/do Chico, e talvez por isso (mas talvez não), tendo a concordar com a Mariana que ele é um autor complexo no sentido mais completo da palavra: com camadas e camadas de referências, sentidos e possibilidades de interpretações entrelaçadas e às vezes em tensão umas com as outras,mas que se fazem forte pela própria riqueza da textura e da tensão. O que é justamente o que me faz concordar com a Naty (e acho que é o consenso geral) que o cara é brilhante.
E um dos pares de tensão que um gênio desses torna muito interessante é o binário sujeito-objeto, autor-obra. Eu concordo com a teoria do Rodrigo. Por um lado, não se pode atribuir tudo que está na obra ao autor (nem tudo que o Hamlet dizia refletia a opinião do próprio Shakespeare sobre ser ou não ser). Por outro, o autor não está completamente imune das influências da situação que ele descreve na obra.
Acho que o gênio de artistas do calibre do Chico é saber jogar com essas tensões, amarrando bem os fios do texto para fazer a gente ruminar e pensar no assunto.
Pega uma música que nem aquela da Geni e o Zepelin - é uma música que tem que parar e pensar muito para entender. Eu lembro que a primeira vez que eu ouvi essa música, a única coisa que entendi foi a parte do "joga pedra na Geni" e fiquei horrorizada. Só depois de muito ouvir que eu fui percebendo as várias vozes, e vendo como a história é bem desenvolvida.
Agora dizer qual entre todas as vozes (se alguma) é a do Chico, acho que isso é aberto a interpretações. O que faz a música dar um pano para manga legal.
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