Interplexa

Do Latim Estérico: Inter (prep. "entre") + plexa (particípio do verbo "plicare", "dobrar", "desdobrar", "laçar") Significado: 1. neutro plural:"Coisas entrelaçadas ou que se desdobram internacionalmente" 2. feminino singular: "Mulher (ou menina) de camadas interligadas ou que se desdobra internacionalmente) Vide também: www.internexa.blogspot.com

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Brasiliense de origem montalvanense desbravando o gelado inverno do doutorado canadense.

30.8.06

Re-abrindo a discussão (parte 3 de 5)

Alterego disse...

Luís,

Para ver se eu entendi seu comentário, vou substituir "filosofia" por "história", e ver o que acontece.

Então, digamos que comemorasse uma lei que exigisse o ensino de história no segundo grau porque "história é necessária ao exercício da cidadania". Daí você poderia perguntar:

1) É a História que é necessária, ou o conhecimento de História?

2) A História inteira, ou só uma parte? E qual parte?

3) Se a História é assim tão necessária para o exercício da cidadania, como explicar que possa ter pessoas como eu, que estudaram história bastante, mas não acham que ajudaram em nada em seu "exercício de cidadania" (a ponto de nem saber o que isso significa).

4) E, dado 3, para quê ficar otimista com anúncio da propagação do ensino de História?

Então vamos por partes.

1) A História é necessária, ou o conhecimento de História?

Os dois, eu acho. É que nem Tostines. Sem História não existe conhecimento de História, mas sem conhecimento de História não há História. Mais: sem uma preocupação com o ensino de História, a História não se renova. É legal pensar que a pessoa ao aprender História de uma maneira faz História também.

2) A História inteira, ou só uma parte? E se for uma parte, qual?

Eu acho que a História inteira contribui, mas que é difícil, se não impossível, para uma pessoa dominar o campo todo da História (ou da Matemática, ou da Física), ainda mais no segundo grau.Então acho que qualquer pouco que você aprenda, contribui um pouco. Só deu para estudar História do Brasil? Quem bom conhecer um pouco da História do Brasil. Deu para estudar Brasil e um pouco de América também? Melhor ainda. Só deu para estudar História Antiga e Medieval? Muito bom, melhor que nada.

3) Se a História é assim tão necessária para o exercício da cidadania, como explicar que possa ter pessoas como eu, que estudaram história bastante, mas não acham que ajudaram em nada em seu "exercício de cidadania" (a ponto de nem saber o que isso significa).

Bom, aqui que a distinção entre "necessário" e "suficiente" ajuda. Acho difícil alguém contribuir para a História sem ter um pingo de consciência histórica. Por outro lado, conhecimentos profundos de todo campo da História não fazem alguém entrar para a História automaticamente. Depende de como a pessoa utiliza seus conhecimentos teóricos para ajudar na sua prática. Conhecimento de História é necessário, mas não é suficiente.

Aliás, na verdade não é assim nem tão muito necessário, pois muita gente fez História sem ter muito conhecimento formal de História. Mas daí entra o conhecimento informal, que vem do ambiente, da cultura oral do lugar, do conversar com as pessoas, com o observar a realidade. E nesse ponto, um passeio de Grande Circular ensina tanto senão mais que a sala de aula.Então: conhecimento de História não é suficiente e talvez nem necessário para fazer História. Mas ajuda pra caramba.

3b) Como assim "conhecimento de História ajuda no exercício ativo da cidadania", se eu nem sei o que quer dizer "exercício ativo da cidadania"?

Olha, para responder essa pergunta a gente tem que apelar para a filosofia. Só que aqui a gente não está falando de filosofia (aliás, quem é que tem o mínimo conhecimento de filosofia nesse país?). Então não posso fazer nada. Vamos voltar para a História.

4) E, dado que nem todo mundo que estuda História entra para História (ou exercita ativamente sua cidadania), para que ficar otimista com anúncio da propagação do ensino de História?

Realmente, ensino de História puro e simples não faz ninguém entrar para a História. Não faz nem aprender História necessariamente, quanto menos "exercitar ativamente sua cidadania". Mas o fato da disciplina estar presente na escola torna esse conhecimento mais acessível: no mínimo no mínimo pelo menos os alunos ficam sabendo da existência desse campo de estudos.

E não só isso. A inclusão de História no currículum de ensino médio não só pode aumentar o número de pessoas que vão escolher entrar depois para a História na Universidade, mas expande o campo de trabalho para as pessoas que já fizeram essa escolha. Dá uma valorizada na profissão, sabe? Coloca ela no mapa.

É claro que a mera inclusão do ensino de História não garante qualidade de ensino. Mas o fato da qualidade do ensino de inglês ou de artes no segundo grau ser ruim não quer dizer que aprender inglês ou artes é inútil, ou que um estudante de segundo grau não tem capacidade para dominar esses conhecimentos. É mais uma questão de melhorar a capacitação dos professores. Professor tem que muito que aprender também. De uma certa maneira força uma capacitação profissional melhor do professor de história. E eu acho tudo isso positivo.

Fim da parte 3.