Interplexa

Do Latim Estérico: Inter (prep. "entre") + plexa (particípio do verbo "plicare", "dobrar", "desdobrar", "laçar") Significado: 1. neutro plural:"Coisas entrelaçadas ou que se desdobram internacionalmente" 2. feminino singular: "Mulher (ou menina) de camadas interligadas ou que se desdobra internacionalmente) Vide também: www.internexa.blogspot.com

Minha foto
Nome:
Local: Brasília, Toronto

Brasiliense de origem montalvanense desbravando o gelado inverno do doutorado canadense.

30.8.06

Re-abrindo a discussão (parte 5 de ?)

Alterego disse...

Luís,

Eu comparo Filosofia com História porque acho que as duas são igualmente importantes numa "educação liberal". Eu nunca vi ninguém discutir se História deveria ou não ser ensino obrigatório no segundo grau. E eu não vejo porque com a Filosofia deveria ser diferente.

O ensino médio no Brasil não é que nem em outros países em que se tem matérias eletivas. É gradinha fechada para todo mundo. É claro que a discussão sobre grade fixa vs. eletivas é muito válida. A comemoração então não é tanto pela obrigatoriedade da Filosofia em si, mas sim pelo fato de ter sida elevada ao status de outras matérias de segundo grau como a História e a Matemática. É aquela alegria de quem finalmente deixou de dormir de favor num colchão na casa dos outros e passou a ter seu próprio espaço de fato e de direito.

Não que isso resolva todos os problemas do mundo. Mas é uma pequena vitória. Qual o mal de comemorar? A alegria, nem que seja com coisa tão pouca, me dá ânimo para tentar melhorar o que falta, o que não é pouco. Pode ser que só eu ache isso legal, e eu entendo muito bem os que não compartilham de meu otimismo. Acho que até o desânimo dos pessimistas eu entendo. Agora gastar energia com anti-otimismo ativo é uma coisa da qual eu não vejo a utilidade.

Necessário vs. ajuda pra caramba

Se ao invés da história ou da filosofia eu tivesse dito que a alfabetização é necessária para o exercício ativo da cidadania, talvez a explicação tivesse sido mais clara. É claro que alguém ainda poderia dizer que "existem vários analfabetos que exercem bem sua cidadania, que transformam a realidade, que fazem história".

Se isso então prova que alfabetização não é necessária para a participação ativa na sociedade, o fato ainda permanece que o não saber ler dificulta muitíssimo tal participação. Daí dizer que a alfabetização, senão necessária para o exercício ativo da cidadania, pelo menos ajuda pra caramba.

Mas eu ainda prefiro arredondar para cima e dizer que é necessária ponto. Dá um toque retórico mais dramático.

Mas o que é esse tal de "exercício ativo da cidadania", e o que que a filosofia, a alfabetização ou a educação tem a ver com isso?

No começo do "Ensaio sobre o Entendimento Humano", Hume usa a definição aristotélica do ser humano como animal racional e social para dizer que se um desses três aspectos (animal, racional, social) sobressai ou atrofia, a pessoa não está vivendo plenamente seu potencial humano.

Por exemplo, se o social sobressai tanto que não se tem tempo para filosofar, ou não comemos e dormimos direito, temos um desequilíbrio. Por outro lado, se a filosofia nos prende à poltrona e a gente se esquece do lado animal ou social, também temos um desequilíbrio. Da mesma maneira, se só comemos e dormimos, e nem estudamos nem nos relacionamos, mais um desequilíbrio.

Pode ser que Aristóteles estivesse errado quando disse que o ser humano é um animal político, ou Platão quando disse que a diferença entre indivíduo e estado é só questão de escala. Mas estas questões em si mesmas são filosóficas.

Não só isso. Decidir ser uma pessoa apolítica é em si mesmo uma decisão política, e qualquer debate desesa natureza é um debate tanto político como filosófico. E esse é o tipo de debate que alunos de segundo grau têm toda capacidade e direito de fazer.

E por que não encorajá-los, e dar a eles algumas ferramentas teóricas? Não acho que seja só professor de filosofia que ganha com isso. Todo mundo ganha.

Fim por enquanto. Mas não termina por aqui. Entre você também nesta discussão!

Que que você acha: filosofia tem alguma coisa a ver com cidadania ou não? É necessária, suficiente, ajuda pra caramba, ou não tem nada a ver? O ensino sendo do jeito que é, é melhor ficar sem?

Participe você também! Sua opinião é super importante.

8 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ampliar o debate sobre a relevância da obrigatoriedade do ensino de Filosofia no segundo grau já "ajuda pra caramba" os futuros professores da grade fixa dos colégios a se preocuparem com uma estratégia adequada para que os alunos desenvolvam o lado crítico. Nem que seja para filosofar sobre o cotidiano. Por exemplo, sobre o ônibus lotado que o estudante pega todos os dias para ir para a escola. Agente transformador? Só o tempo dirá.

Beijos, Fan.

setembro 02, 2006 11:50 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ester,

sinto pelo sumiço, estava em trânsito e sem internet. Mas debater com você é sempre bom, e é um prazer estar de volta. Vou tentar responder a você, destacando os pontos do seu texto.

“Eu comparo Filosofia com História porque acho que as duas são igualmente importantes numa "educação liberal". Eu nunca vi ninguém discutir se História deveria ou não ser ensino obrigatório no segundo grau. E eu não vejo porque com a Filosofia deveria ser diferente.”

OK – meus problemas aqui. Desde o email que eu te mandei minha dúvida é entender o que é essa educação liberal a que você sempre se refere. Eu tenho intuições sobre o assunto, mas elas são vagas o suficiente. Imagino que não seja coisa fácil de responder, mas um dos motivos do debate é deixar mais claro para mim (e para você, talvez?) o que você quer dizer com isso.

Mas, mais especificamente, minha dúvida era sobre o papel da filosofia e da história (e da sociologia, que foi contemplada pela lei, mas não pela nossa discussão) nessa educação. Aqui você diz algo insuficiente para me convencer – o fato de ninguém discutir se o ensino de história deve ou não ser obrigatório não prova nada; pode ser que as pessoas não discutam por conformismo. Mais que isso, dizer que o ensino da história deve ser obrigatório não resolve qual o conteúdo a ser abordado – devemos dar ênfase na história do Brasil? Na história econômica? De uma perspectiva marxista? Ou a educação será atingida independentemente do conteúdo abordado?

(Dois paralelos me importam aqui. Pense, primeiro, no ensino de literatura – ninguém o contesta. Mas isso ainda não decide se devemos dar atenção à literatura brasileira, ou portuguesa, ou inglesa... Minha opinião, neste particular, é que os alunos lucrariam mais lendo clássicos da literatura universal do que a pobre literatura brasileira. Em segundo lugar, minha preocupação original era com a filosofia. Quando vi sua comemoração e li o projeto, fiquei preocupado se a única filosofia estudada no segundo grau seria filosofia política. E a lógica? E a metafísica? Enfim, reforço meu ponto original – dizer que a filosofia faz parte de uma educação liberal ainda não decide qual programa um curso de filosofia deve seguir.)

A segunda coisa que você fala não me convence nunca – você diz que, se a história tem seu lugar ao sol, então a filosofia deve ter também. Não vejo tantas afinidades entre as disciplinas assim – mesmo história da filosofia é algo tão específico que não poderia ser feito por alguém que só tivesse treinamento em história. De verdade, não vejo por que a obrigatoriedade do ensino da história legitima a obrigatoriedade do ensino da filosofia.

“Qual o mal de comemorar? A alegria, nem que seja com coisa tão pouca, me dá ânimo para tentar melhorar o que falta, o que não é pouco. Pode ser que só eu ache isso legal, e eu entendo muito bem os que não compartilham de meu otimismo. Acho que até o desânimo dos pessimistas eu entendo. Agora gastar energia com anti-otimismo ativo é uma coisa da qual eu não vejo a utilidade.”

Não sei se “anti-otimismo ativo” foi um recado para mim; eu me incluiria no grupo dos pessimistas desanimados. E explico: quando dei aulas de filosofia na UnB, minha impressão foi que os alunos que tiveram aula de filosofia no segundo grau (e as levaram a sério) eram os alunos mais chatos. Não necessariamente os mais burros, mas os que mais se achavam por dentro e mais davam fora. Claro, impressões não são medidas confiáveis, mas, na falta de dados seguros, prefiro confiar nelas. Fora isso, acho que tornar filosofia obrigatória não é um passo na direção certa – como se agora nós tivéssemos de fazer apenas alguns ajustes. E mais: temo por como os cursos universitários serão afetados. Por exemplo, deve afetar o perfil dos alunos que ingressam no curso – meu palpite é que o número de alunos mal-informados e deslumbrados aumentará (pense no perfil do Wilian). Claro, palpites não são evidências confiáveis, e talvez nós devamos esperar para ver. Mas, de qualquer modo, queria apenas justificar meu desânimo pessimista.

LM

setembro 06, 2006 5:14 PM  
Blogger Ester Macedo said...

Ok, comentário rápido:

Educação liberal: acabei de escrever um trabalho sobre este tópico. Acho que vou postar partes dele aqui.

Qual parte da filosofia: acho que agora finalmente entendi sua pergunta. Acho que "parte" a qual a lei se refere não deveria ser vista como " política vs. lógica" , mas como "noções básicas vs. conteúdo altamente especializado".

Eu já dei curso de introdução de filosofia algumas vezes, e geralmente a gente inclui um pouco de cada coisa, só para dar o gostinho. E se a gente faz isso com aluno de primeiro ano que têm seus 18 anos mais ou menos,não sei por que não fazer um ano ou dois (ou mais) antes.

Pensa só, no seu ponto de vista como professor: você às vezes reclama que seus alunos são meio "crus". Se eles tivessem tipo um mínimo de vocabulário filosófico no segundo grau, talvez isso adiantasse bastante seu expediente.

Além disso, o "aluno chato que acha que sabe" não teria tanto com que se esnobar, porque todo mundo estaria mais ou menos no mesmo nível.

Agora uma pergunta para você, que é um cara novo, que saca bastante de filosofia, tanto como professor como aluno. Onde foi que você aprendeu, com quem e quantos anos você tinha?

setembro 10, 2006 10:51 AM  
Anonymous Anônimo said...

Suponho que suas perguntas tenham como foco a filosofia. Meu aprendizado foi difuso, ao longo de vários anos, do começo lá na Unicamp até hoje - aliás, cada vez aprendo mais. Aprendi, então, dos 17 aos 26 - e ainda espero aprender mais. Aprendi com o Osmyr, com o Mandle, com o Howell, com o Ungar, com o Lucas, com o Gerson, com o Hilan e com várias pessoas que escreveram textos que eu li, de Platão a Kit Fine. Aprendi na Unicamp, na SUNY, na UnB e em casa, lendo textos. Por que a pergunta?

Retomando a discussão, gostei da comparação com introdução à filosofia, mas por motivos diferentes dos seus. Eu não tenho a menor ilusão sobre meus cursos de introdução à filosofia - acho que até os bons alunos que levaram o curso a sério não vão se lembrar de muita coisa depois de um ano. O que pode acontecer - e isso acontece pouco - é um aluno se interessar pela filosofia e fazer outros cursos, mas isso tem mais a ver com o que eu tinha dito de filosofia como optativa, só para as pessoas terem um contato. E o que você disse sobre ensinar filosofia no ensino médio, para os alunos estarem melhores na universidade, funciona dos dois jeitos - se ensinar para eles na universidade já é difícil, imagina antes.

Enfim, se as coisas fossem diferentes, elas poderiam ser muito legais. Mas, como elas são como elas são, continuo pessimista e desanimado.

LM

setembro 10, 2006 3:32 PM  
Anonymous Anônimo said...

Um adendo: quais são as noções básicas da filosofia? Fiquei mais e mais cético com relação a isso - acho (e admito que a tese é forte) que ou você faz filosofia (de um modo aprofundado) ou não (e isso é só sofística); não existe meio termo. O problema de falar de noções básicas vs. aprofundamento é que muitas das teses defendidas pelos filósofos soam bem implausíveis, e o único modo que eu conheço de torná-las plausíveis (levando-as a sério) é aprofundando no assunto e nos argumentos por trás dele.

LM

setembro 10, 2006 3:39 PM  
Blogger Ester Macedo said...

Luís,

Como você diz, a gente vai aprendendo aos poucos, difusamente. Não dá para aprender tudo no segundo grau: tem coisa para uma vida inteira. Então melhor começar logo.

Não é uma questão de quais "as" noções básicas. É uma questão de adquirir "algumas" noções básicas, como premissa, conclusão, ler alguns textos clássicos, como você diz. Um pouco de racicínio filosófico, assim como um pouco de raciocínio matemático, não faz mal a ninguém.

E se no ano que vem algumas coisas tiverem sido esquecidas, outras não terão, e se noventa e cinco por cento resolverem não continuar, os outros cinco não vão estar tão crus como se estivessem ouvindo falar da disciplina pela primeira vez.

Você não chegou cru na Unicamp. Quando você começou o bacharelado, você já tinha algumas noções básicas de filosofia, senão não teria se matriculado no curso.

Nossas conversas sobre os professores do Sigma eram filosóficas. Nossas conversas sobre o Mundo de Sofia, ou sobre a Nova Acrópole, eram filosóficas. Nossas conversas sobre a Emília e a Reforma da Natureza eram filosóficas. Claro que não tinham a formalidade que a gente adquire com anos de treinamento, mas com certeza ajudou a desenvolver nosso raciocínio filosófico.

Como Sócrates diz no final do Eutidemo, não acho que o fato de filosofia não ser praticada do jeito "certo" queira dizer que ela seja inútil, ou que não valha investir em aprendê-la e ensiná-la.

setembro 10, 2006 11:39 PM  
Anonymous Anônimo said...

Para mim parece claro que ninguém vai aprender filosofia de forma aprofundada no segundo grau. Nem os alunos têm maturidade para isso, nem há tempo para tanto. Aliás, não sei nem se podemos dizer que é possível aprender filosofia de forma aprofundada na faculdade de filosofia - mas nesse caso não vou me meter. Afinal, foram vocês que fizeram essa faculdade. Enfim, o importante é pensar que a filosofia ser disciplina obrigatória no segundo grau é o primeiro passo. É a introdução. Os alunos vão ter contato com os textos, vão se familiarizar com os filósofos e suas teorias. Dane-se se depois vão entrar na faculdade dando uma de saberetas. Cabe a vocês como professores terem paciência e mostrar a eles que eles ainda não sabem quase nada. Um professor que acha melhor o aluno chegar na faculadade sem saber nada de filosofia do que aprender "pouco" no segundo grau está prestando um grande desserviço ao aluno e à sua própria profissão (de professor). É um grande desestímulo pensar que se não for pra aprender profundamente no segundo grau, então é melhor não aprender nada. Tudo ao seu tempo. Qualquer disciplina que se aprenda no colégio começa com uma base. Primeiro se aprende as quatro operações básicas da matemática. Depois, começa-se a usá-las em outras operações mais complexas. O mesmo é com o português. Aprendemos o alfabeto e a diferença entre vogais e consoantes na formação de uma palavra. Só depois fazemos frases e só mais tarde ainda produzimos textos. Claro que tudo isso é ensinado desde o início da nossa vida escolar, portanto teremos muito tempo para aprimorar os conhecimentos. Mas o fato de a filosofia ser obrigatória no segundo grau já é o primeiro passo. Quem sabe se a experiência der certo ela tb não passa a ser obrigatória no ensino fundamental? E não seria ruim se fosse obrigatória também no ensino básico. Será que os professores saberiam respeitar a maturidade escolar das crianças para adequar o ensino de filosofia à elas? Isso é uma outra história.
Bom, voltando ao português e à matemática. Reconhecemos que muitos alunos chegam ao fim da quarta série com sérios problemas de alfabetização. É uma falha que lhes prejudica a vida escolar como um todo no futuro. E é claro que essa falha precisa ser corrigida. Mas ninguém cogita retirar português e matemática de disciplinas obrigatórias só porque elas não são lecionadas de forma adequada. Filosofia, história, português e matemática são completamente diferentes. Mas o argumento de que "se não ensinar direito é melhor não ensinar" é um imperativo categórico, portanto, vale para todas.

setembro 15, 2006 1:18 PM  
Blogger Ester Macedo said...

Mari, concordo plenamente, faço suas palavras minhas.

Tem havido muitas discussões interessantes sobre a natureza, utilidade, e ensinabilidade da filosofia, o que em si já um debate legal, muito (meta)filosófico por sinal.

E é claro as conseqüêcias vão além de meramente aumentar o número/nível de inscritos em filosofia. Como a Naty disse um tempão atrás, noções de filosofia ajudam em qualquer profissão.

Eu já mencionei a Cecília Prada do SESC-SP. Uns meses atrás ela publicou uma entrevista com o diretor da Capes, Renato Janine Ribeiro, que faz um comentário interessante sobre o assunto. Para quem quiser dar uma olhada, o artigo, entitulado "Falta Filosofia", publicado no número 374 de mar/abr 2006, está no site:

http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=239&Artigo_ID=3767&IDCategoria=4142&reftype=1

Beijos, e a luta continua, companheiros. Filosofia para Crianças é um ótimo próximo passo, mas existe ainda muita resistência contra isso pela frente...

setembro 15, 2006 2:25 PM  

Postar um comentário

<< Home